Às benzedeiras e "bruxas" italianas

Dedicato alle "streghe" italiane, specialmente del Vèneto,

terra della mia nonna Maria Magera e della sua

ascendenza...

(Dedicado às "bruxas" italianas, especialmente às do Vêneto,

terra de minha avó Maria Magera e de seus

antepassados...)

A strega cozinha ervas na panela. Não tem caldeirão, não! É panela, a mesma da sopa de batatas, a mesma da polenta com calabresa! As ervas, são ali do quintal, e tem canela, cravo e um punhado de rosas, que é pra disfarçar o cheiro de raízes e folhas não tão cheirosas. ..

A água turva borbulha, o caldo engrossa. Uma vez, a colher de pau escorregou, a poção lhe espirrou na mão, e desde então, usa luva de couro para não se queimar, e sempre tem lavanda pra aliviar, caso se queime. Ela é italiana, mas o nariz é austríaco. E o gato não é preto, é siamês. Também não tem chapéu pontiagudo, é gorro de lã, pois lá no Vêneto o frio judia. E os encantamentos, não são palavras cabalísticas: é medalha de São Bento, esconjuro de São Cipriano e terço que aprendeu rezar com a nonna.

Ali não tem inquisição, e até o padre encomenda poção. Benze mau olhado, quebranto de criança, gota e dor de dente. Ensina simpatia pra verruga, e com ajuda de Santo Antônio, ragazza nenhuma fica solteira, e ragazzo nenhum nega fogo. Marido jamais volta pra esbórnia, e sogra fica mansa e quando vai visitar, leva bolo de fubá e lava prato cantarolando. Chuva não atrasa e a colheita é sempre certa. E até os ratos, passam longe, mas não é por causa dos gatos, não! É que o manjericão queimado com louro, além de trazer boa sorte, ainda espanta mosca, rato, traça e pragas de outras bruxas!

Na missa, comunga todo domingo, ali não falta eucaristia. E dá-lhe Ave-Maria! Não entende o latim da Sancta Messa, mas o que vale é a fé. E se não valer, em casa tem pão de centeio, vinho encorpado e água com sal, é só cruzar tudo em cruz, com a ladainha que a nonna ensinou, que doente fica bom, criança não tem mais pesadelo e até as almas do purgatório se aliviam. O padre diz para não abusar muito, não ensinar ninguém e não espalhar pro povo, porque o bispo diz que é sacrilégio.

Mas ele é filho da dona Genoveva, e se lembra bem que quando ela ficou doente, e estavam sem padre na vila, foi com o tal "sacrileggio" que ela ficou boa. Então há de ser um dom, porque de maldade pra os outros, a nonna fez jurar ajoelhada diante do crucifixo, que jamais faria. E assim tem sido.

Já por isso a strega pouco vai ao bosque, e quando tem de ir, vai de dia, com o escapulário e com a medalha de São Bento, pra prevenir que nenhuma criatura malfazeja do bosque venha junto pra casa. Já foi o tempo que se deixava leite e mel nas árvores pras fadas, porque é coisa de pagão! Se benze em cruz, pega as ervas e corre pra casa sem olhar pra trás! É assim que se faz, há gerações! Mas quando é primavera, aí todo mundo vai pro bosque colher flor, porque no oratório além de vela, é bom por fiore no vaso de água, pra atrair bons anjos e agradar o Sagrato Cuore di Maria. E assim segue a vida.

No mais, é descascar batata, fazer polenta, por o pão pra assar, esfregar a roupa que vem suja da lavoura, fazer parto quando bambino já ta bom pra vir ao mundo, pisar na uva com o pé quando vem a safra, costurar roupa boa pra quando tem casamento, batismo ou procissão, guardar moedas num vaso enterrado no quintal, escondido de todos, pro caso de um dia vier tempo ruim, má colheita ou necessidade de saúde, levar pão e batata para os vizinhos mais pobres do outro lado do vilarejo, no inverno, e levar manta para os órfãos do convento, porque as irmãs não sabem tecer, e sempre deixam colher ervas pra remédio e pra encantamento, no jardim do convento...

“Che la Vergine Maria benedica a tutte voi,

che hanno stato buone streghe nella terra!

Che la vostra forza e preghiera si faccia presente

oggi e sempre a tutti quelli che hanno bisogno!”

Eron Levy
Enviado por Eron Levy em 27/02/2013
Reeditado em 27/02/2013
Código do texto: T4162048
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