Por que é importante sentir o luto?
Há quatro anos, exatamente, eu estava presa em um pesadelo. Lembro-me de tudo daquele dia: sons, gostos, gestos, cheiros... dor de cabeça, falta de ar... me faltava o ar, me faltava esperança e, com muita cautela, creio que me faltava também a fé.
Quando eu era criança, lembro tão forte de um dia em que eu senti medo, como estou sentindo agora... depois sorri e pensei: nossa, não preciso ter medo, meu pai nunca me deixará ser infeliz. O peso que eu transferia a ele sobre meu sucesso ou fracasso se devia há tantas coisas, há tantas memórias, há tantas conversas.
Foi então que eu percebi que seguro o meu luto há quatro anos. Tive tanto medo de não dar conta de mim mesma que atropelei meus passos, quebrei minha cara, misturei pressa com insegurança e fiz uma mistura não muito agradável de mim mesma. Eu não queria ser um peso pra minha família e eu não sabia o que fazer com minhas próprias decisões.
Em meu convite de formatura, eu não deixei que apresentassem os dizeres: “in memória” ao lado do nome dele. Eu sabia que ele já tinha partido, que não estava entre nós, mas também sabia que aquele convite era dele também. Me formei por mérito de meus pais e de meu irmão. Os três estavam presentes naquele momento. Aquela conquista era de nós quatro. Meu pai estava vivo naquele momento. Nas memórias ele ainda vivia.
Eu não sei tomar conta da minha felicidade. Eu confiava esta tarefa ao meu pai. O que ele falava pra mim era lei, era o certo. O que é certo? O que é errado? A partida do meu pai me cegou sobre tantas coisas... eu queria encontrar a felicidade há qualquer custo, em busca da felicidade tentei me satisfazer como profissional, bati a cabeça nos muros da vida, vivi entre portas se fechando e janelas se abrindo. Pulei muitas janelas. Não vi felicidade no trabalho.
Ontem e hoje eu senti um medo que eu já havia experimentado. É incrível como a memória tem esta capacidade de nos transportar no tempo, não é? Não tem outra explicação para este medo que sinto todo dia 31 de janeiro e 01 de fevereiro... eu sinto medo de perder as pessoas que eu amo. Eu sinto medo de ser infeliz. Sinto medo de partir cedo desta vida. Medo de estar sozinha... medo, medo, medo.
Nesta confusão que está a minha cabeça no dia de hoje, resolvi escrever para tentar entender o que eu estou sentindo.
Pânico? Tristeza? Melancolia? Medo? Saudade?
Percebo-me parada em frente a tela em meio a estas opções, percebo que na verdade eu sinto... LUTO. Pela primeira vez em quatro anos sinto que estou no caminho certo e queria muito que meu pai estivesse aqui pra sorrir pra mim orgulhoso e dizer: “Sua cabeça é o seu guia.” Ele sempre dizia isto e acho que agora, neste momento, ele acrescentaria: “Eu sabia que você conseguiria”.
Estou sentindo o LUTO, mas de maneira diferente dos anos anteriores... estou triste por ver que ele não está comigo, ele não está participando das nossas conquistas, não está colhendo os frutos que ele mesmo plantou. De certa forma, é como se eu sentisse que neste momento, estou fazendo as coisas para as quais ele me criou.
Estou feliz, pois eu sei que ele, de um jeito ou de outro, me deixou preparada pra encontrar meu próprio caminho. Meu pai nunca deixou que eu fosse infeliz. Nem ao menos depois de sua partida. Confiando em mim, ele me ensinou que eu tenho o poder sobre a minha felicidade. É hoje eu sei que ele não deixaria mesmo que eu fosse infeliz, que eu não desse certo na vida.
Pai, se de alguma forma o senhor puder perceber o que estou sentindo agora, eu gostaria que o senhor soubesse que eu sou feliz por ter tido a sua confiança, os seus ensinamentos, o seu carinho e a sua presença. Sinto a sua falta, e tenho fé que o senhor esteja aí em algum lugar, descansando e olhando por nós. Desejo de todo o coração que estejas em um bom lugar, bem perto de Deus. Te amo. Sinto sua falta. Obrigada por tudo o que o senhor, junto com a minha amada mãe, me ensinou a ser.