Palavras ao Professor

Lembro-me daquele convite para que um dia fizéssemos uma visita à chácara de nosso professor, eu era adolescente, e daqueles adolescentes fechados por consequências de sua própria vida, nada de mais, apenas coisas de adolescente, talvez. Lembro-me também de ter recusado o convite com um simples “não”, sem mais justificativas no momento, um fechamento pessoal, nada contra aos amigos de classe, tão pouco quanto ao professor. Assim feito, visita agendada para uma manhã daquele ano no qual sinto o aperto no peito ao pulsar a saudade.

O que também poderia ter me feito dizer não foram à falta de outros convites e talvez esta falta tenha sido por mérito de nós alunos daquela classe, mas nada de exclusão, talvez, o que fora justo, pois, reconheço não ter sido um bom aluno, mas aproveito o ensejo para dizer que tive excelentes professores, entre eles, Roberto Della Coletta, Ou para nós o Seu Beto.

O sol anunciava aquela manhã e com a benção de todo o amanhecer eu me levanto, lavo o rosto, escovo os dentes, enfim, aquilo de nossa rotina, talvez pequenas coisas que fazemos todas as manhãs desde quando educados pelos nossos pais, mas que fogem da percepção de nosso ser, e assim, mochila nas costas rumo a mais um dia de aula, sim era a manhã daquela visita no qual iríamos conhecer a chácara e como você pôde perceber eu havia me esquecido. Chego à escola, todos ali preparados para o passeio, menos o adolescente “repolho” aqui, por que repolho? Tenho a certeza que você se perguntou... Apenas pelo fato do repolho crescer fechado em suas folhas metáfora de algumas vidas, mas, seguindo adiante, ao dizer que não iria os meus amigos no qual incluo o Seu Beto, me falaram, “você já está aqui vamos, vai ser legal!” Talvez seria legal mesmo, talvez eu tinha que ir e aquilo poderia mudar minha visão de muitas coisas, “Sim, vamos” digo eu.

Deus não erra! Você já deve ter feito uso desta expressão querendo ou não, então, e não é que Ele não erra mesmo? Ao meio do caminho uma paradinha, comprar os lanches e as bebidas, ora, um momento como esse passar sem um piquenique, mas eu havia saído sem nada no bolso, esperei de lado comprarem as coisas, foi quando os amigos me chamaram e disseram “não vai pegar nada não?” eu acenei um não acanhado, quando eles complementaram “pega nós acertamos pra você” e também mais uma vez a voz do Seu Beto ressoou em nosso meio “pode pegar eu pago” e assim aconteceu, agora o caminho era sem paradas, afinal, o espírito de conhecer as paisagens e tudo que estava por vir já pairava sobre nós... E após uma doce e alegre caminhada que fez bem para o corpo e refrescou a alma, lá estávamos nós pisando na grama fresca do portão da chácara e sentindo a brisa calma do vento que parecia dizer-nos “Sejam Bem-vindos”.

E assim o passeio fora acontecendo, imagens, paisagens, resumindo a mãe natureza nos saudando e nos surpreendendo a cada descoberta a cada passo. Mas ainda faltava algo, percebia-se no olhar do Seu Beto que faltava algo para fechar o passeio como dizem “com chave de ouro”. Estávamos sentados à beira de uma represa e ele queria nos mostrar uma linda ave que ali dava sua rasante em busca de comida, então, silenciosos ao som da natureza aguardávamos o instante tão esperado. Os minutos passaram-se e infelizmente a voz mais uma vez ressoou em nosso meio, só que agora com um ar de tristeza pelo fato da ave não aparecer “vamos voltar, acho que hoje não conseguiremos ver...” estas palavras pareciam sair do fundo de sua alma, quando ao nos levantar atrás das verdes arvores e pastagens ouve-se a ave vindo em busca do seu alimento, e também nos saudar ou melhor fazer com que o passeio se completasse, a voz que antes era povoada com um pouco de tristeza, agora ressoou feliz ao dizer “Vejam, como é lindo” e de fato sim, umas das coisas mais lindas que pude viver até então, algo lindo vivido e até hoje guardado em minha memória e agora transmitido a você espero que você tenha vivido esta historia real, fascinante e que marcou e mesmo após alguns anos ainda revivo toda vez que olho para um passado não tão distante, mas que por consequência não volta mais... Valorize cada instante de sua vida, coisas pequenas também tornam-se inesquecíveis... E Obrigado Seu Beto, por aquele dia e por ter mostrado que na vida ha coisas simples, mas belas, basta apenas olharmos tudo além de nossos olhos.

Xande de Matos
Enviado por Xande de Matos em 31/01/2013
Código do texto: T4115815
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.