SÃO PAULO, PORQUE TE AMO
No início da madrugada de 25 de janeiro de 2013
Ofereço a uma Zuleika que fotografava...
Embora seja hoje o dia do teu aniversário, talvez eu devesse me deter na enunciação dos desmandos de que és vítima todo o tempo, desmandos das autoridades, desmandos de boa parte do povo que te habita, povo vítima, por sua vez, da falta de Educação, da falta do sentimento de cidadania, desmandos pelos quais tu, São Paulo, pagas, na tua gente mais pobre, mas também nas tuas gentes das várias classes sociais, pagamentos mais dramáticos ainda do que ao longo do ano nestes tempos de chuvas, quando vem à tona o lixo acumulado no fundo dos teus rios, quando tantos perdem as suas já precaríssimas moradias, quando carros boiam e outros afundam sob o peso das águas (...); como dizia, talvez eu me devesse deter na enunciação desses e de outros tantos horrores que marcam a trajetória das tuas ruas, dos teus dias. Não, eu não quero deter minhas palavras em tais horrores e nos outros tantos mais, os tantos mais... a perder de vista... a perder de vista... a perder de vista...
Poderia, pelo contrário, deter-me na enunciação do que tens de belo, na amplidão da tua vida cultural, na beleza dos teus parques, na variedade dos teus povos, na procura de caminhos de resgate para teus problemas por muitos dos seres que verdadeiramente te amam (...); no entanto, quero apenas fazer-te uma declaração de amor:
Tu, São Paulo, és como tem sido em mim o amor pelos homens da minha vida, pelas minhas amigas e amigos, em uma solidariedade nem sempre útil; pela poesia, pela música; como foi o ato de ensinar, no meu tempo de professora, quando eu efetivamente no mundo; como foi meu tempo de cantar, nos palcos da vida; como este presente (que já se alonga há muito) tempo de exílio, exílio de tudo: São Paulo, amor difícil, contraditório, miserável e opulento, todo o tempo a oscilar entre o inferno e o céu. Assim, já que partilhas da tônica sempre presente nos meus modos de amar, não me resta outra escolha (até por coerência) senão continuar a amar-te também assim, com meu corpo, com meu coração, com minha alma, exatamente como tenho amado, ao longo da vida, os outros amores todos da minha vida. Mesmo agora, assim sempre à distância de ti conquanto habitante de ti, pois sempre a viver no interior da sala deste apartamento, que se tornou meu único mundo, obrigatório, o que faz com que morar em ti, ou em qualquer outra cidade, metrópole ou não, aldeia ou não, já não faça, em termos práticos, qualquer diferença, o que também tem sido a tônica, esta Ausência, esta Perda, em todos os territórios da vida. Saber de ti pelas notícias no rádio, na TV, na internet. Ainda assim, cidade cujas ruas já não percorro nem fotografo; ainda assim, cidade de todas as perdições, encontros e desencontros, imensos, todos na tua gigantesca medida; ainda assim te amo, reservatório que és de todas as minhas memórias. Por isso, hoje, no dia
do teu aniversário, eu venho saudar-te, eu, nascida aqui, vivida aqui ao longo desta já tão longa, tão longa vida de achar e de perder... de perder e de, talvez, em algum nível , poder vir algo qualquer, ainda, a reencontrar.
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