AO MEU PAI...
Quem poderá cantar pra mim,
A música linda daquele "neguim"?
Quem poderá ao raiar do dia,
Já matar a sede com a cachaça fria...
Quem poderá acordar tão cedo,
Sem pensar na vida, sem pensar no medo...
E se a "velha" grita e tá meio tonta,
Abre um sorriso: "o café tá pronto"...
E as plantas esperam quietas, ansiosas...
Pelo banho frio da agua gostosa.
Quem poderá nunca ficar bravo,
Nunca reclamar pelo filho ausente,
E dizer sorrindo e com muito orgulho:
"Esse velho é forte, não fica doente"...
Quem poderá ao cair da tarde,
Esperando a noite que virá tão bela,
Puxar a cadeira ficar na calçada,
E daqui a pouco tem minha novela...
É... mas a vida passa, e o destino vem...
Você tem agora e amanhã não tem.
E faz pena agora, ter que reviver,
Só as lembranças ficam, boas de se ter...
Mas faz pena mesmo é não vê você,
É um velho desses um dia morrer.