O Herói.
¤ Ele ia caminhando lentamente, a passos curtos e rítmicos,
sentindo-se leve por ter descansado e sonhado. Os momentos
vindouros indicavam grande sucesso em sua jornada, e
contemplar o brilhante deja vu da ascensão ao cargo de Grande
Mestre era a maior das dádivas. Todavia, ele sabia que seu maior
rival era um cavaleiro de notável presença, homem de absoluto
conhecimento, entendedor e manipulador do cosmo; enfrentá-lo
numa disputa como esta seria um privilégio, por mais que fosse
para o cargo mais elevado. Na verdade, Aiolos não cobiçava
estar no ápice da hierarquia do santuário; mas se este fosse lhe
dado pelos esforços: ele aceitaria, tendo total ciência de suas
habilidades.
A brisa era refrescante, vinha das cortinas que dançavam l
entamente nas paredes cinzentas ao redor. E afagado por
aquele beijo, ele continuava a caminhar até chegar a frente do
Mestre, ficando de joelhos numa reverência lenta. Os olhos buscavam
os do sumo-sacerdote, mesmo estes sendo camuflados pela máscara.
Aiolos sentia que algo tinha de errado, porque as sensações o
deixavam tenso, e o silêncio de seu anfitrião auxiliava em todo
aquele mau presságio.
- Grande Mestre, está mais calado hoje...
E acho que estou sentindo a mesma coisa que o senhor;
certa inquietação corre pelo meu corpo, como se
quisesse me alertar e me incitar
a sair daqui para procurar. No entanto, eu não sei o
que procurar, nem aonde; me sinto perdido, e peço
que me guie. -
Dentro de si, a dúvida pairava, matutando em cada
parte de seu corpo, como um enigma indecifrável. É claro que
ele não possuia o dom da clarividência como o Grande Mestre,
mas o sexto sentido e o senso de proteção fazem parte de
todos os cavaleiros da justiça; e sendo assim, ele sentia
que o universo queria lhe compartilhar algo, por mais que
fosse como uma metáfora silenciosa e insípida.
- Aiolos, há coisas que o coração sente. Aquele
velho ditado, que diz: "O que os olhos não vêem, o coração
não sente", é a mais pura mentira. Só os tolos acreditam
nesta bobagem, porque o coração sente qualquer
coisa que possa fazer mal à paz e às pessoas que precisam
de nós. É por isso que sempre sabemos quando o mundo
está em perigo.
O que sente agora e não entende, nada mais é do que a
presença do mal; pois o mal consegue se camuflar de nosso
discernimento e de nossa percepção. O mal tem várias
facetas, e você deve saber disso. Mas saber não quer dizer:
"entender". -
¤ A voz do mestre preenchia o ambiente com calma e desvelo, e seus olhos fixaram-se nos límpidos olhos de seu cavaleiro, buscando tirar uma informação que os lábios não havia proferido ou tentado, em vã oportunidade, sussurrar. Mas não existia nada, nada que Aiolos guardasse para si; realmente, estava em dúvidas. O Mestre já iria saná-las.
- O mal consegue ser misterioso a todo instante em que age, mas sempre conseguimos localizá-lo e impedí-lo. Desta vez, não consigo saber de onde virá e nem sei seu nível de força; as sensações apenas se remexem dentro de mim. - Olhou para baixo, como se tentasse meditar naquele súbito momento e perceber a minuciosidade do mal que alfinetava constantemente a sua mente. Nada conseguira, se não um resquício pálido em meio à sombra de seus pensamentos. - Sabe de alguma coisa, Mestre? Tenho certeza que já deve ter lido nas estrelas sobre essa fatídica eventualidade que está evoluindo de hora em hora. -
O Grande Mestre já sabia o que viria, mas ainda repensava sobre o porquê daquilo influenciar tanto no futuro. Os EUA, como uma das potências mundiais, se se voltasse contra um país tão pequeno, poderia provocar aquela parte do mundo, e é lá onde residem os maiores terroristas e as pessoas que não tem medo de morrer utilizando o próprio corpo como arma.
- Você sabe, mas ainda não procurou entender que o mal pode aparecer em qualquer canto; por isso que cabe a nós, cavaleiros e defensores de Athena, localizá-lo antes que ele possa causar maiores catástrofes.
Este mal iniciará numa das maiores cidades além-mar, chamada Nova York. Lá é um centro de poder, e é o local que possui os melhores representantes deste mundo. É visado mais que qualquer outro lugar. -
- O que é um prato cheio aos terroristas, pois eles sabem que poderão abalar as estruturas deste mundo capitalista que está em tão alta atividade. São povos que gostam de mostrar o quanto são rebeldes, e a atenção é algo que desejam acima de tudo; pois ela traz poder e união de simpatizantes - aqueles que possuem a mesma ideologia, mas não têm coragem de exercê-la, se não for com o ímpeto dos outros. -
À estas palavras, Aiolos impressionou-se com tanta sapiência e raciocínio que o Mestre possuia; não fora à toa que ele tinha sido escolhido por seu antecessor a ter aquele cargo; ele sim é alguém digno de ser mestre.
Enquanto Aiolos pensava, o Mestre mantinha-se quieto e estático, uma estátua de majestade, envolta de mistério e suavidade. A figura se sobressaia em todo o espaço e ganhava cor de forma que o ambiente perdia a sua. Esse era o poder do respeito que habitava o coração de Aiolos e que fazia com que seus olhos enxergassem.
"O Grande Mestre tem certeza que o bem sempre supera o mal, até mais do que nós, cavaleiros. A esperança é algo poderoso dentro de mim e d Grande Mestre, mas ele consegue demonstrá-la a qualquer instante, e sua sabedoria aumenta as expectativas daqueles que o observam e aguardam uma resposta inesperada, mas de total afago aos pensamentos; seja implicita e não-verbal, seja nas palavras." Aquele momento em que se manteve absorto, notou que não deveria ter ido sem a sua armadura para o salão; em verdade, ele estava com certo nervosismo e não andava pensando com todos os requisitos que tinha; e por isto, esquecera-se de vestir a armadura. O cargo de Grande Mestre era algo que lhe fazia frente, mesmo que não o desejasse com tanta intensidade; bastava servir Athena, que valeria toda a sua vida. ¤
- E então é a nossa vez de impedir que isso aconteça; não quero que terroristas provoquem uma das potencias mundiais, isso também os tornaria ainda piores.
Mestre, acho que, mesmo eles querendo chamar atenção, existe algo que desejam para si; não só atenção, é claro. São povos necessitados, cuja cultura e educação são deturpadas; no entanto, o instinto de viver melhor deve habitar em seus corações. Precisam de algo, e por isso chamam tanta atenção. - Tinha certeza que era isso, que os povos precisavam de alguma coisa e queriam chamar atenção, mudar a visão do mundo, pois o capistalismo é algo destrutivo para o espírito e para aqueles que estão no umbral, nos pés deste mundo. E eles não podem ser esquecidos ou pisados pelas grandes nações; e isto que causa sua revolta e o que revela ignorância aos outros países. É por isto que atacam os grandes e deixam os pequenos em paz.
Bondosamente, o Mestre levantou-se, entendendo o que se passava no coração de seu irmão de armas e o tocou no ombro, dizendo.
- É por isto que você irá para a América, Aiolos. Quero que impeça a destruição destas duas construções de pedra, cimento e vidro, e não deixe que estes homens percam suas vidas; que entendam que o que farão, é um mal, e que possam ser absolvidos pela santidade e vontade de viver. -
- Então é esta que é a América? - O anjo dourado não havia sido localizado pelos radares, nem percebido pelos olhos dos humanos; ele estava ali, parado sobre o cume de uma das grandes torres chamadas: "World Trade Center"; esperando pelos aviões que logo apareceriam naqueles céus repletos de nuvens; aproveitava para apreciar a imagem de todas aquelas pessoas, sem saberem que o perigo às rondava; e zelava por suas vidas apenas estando ali.
- Uma cidade tão populosa, alvo de uma destruição como esta, causaria grande fragilidade a este povo e também aumentaria a ira daqueles que estão no poder: o que poderia fazer estourar uma terceira guerra mundial. -
Era manhã, e as nuvens estavam branquíssimas; não existia sol aos olhares, tendo este se escondido acima das hóspedes branquinhas, e o clima estava aprazível; um regaço perfeito para uma grande multidão.
Ele não só sabia que aquilo iria acontecer, como sentia uma leve inquietação dentro de si, como um alerta à sua vida. Poderia vir dos aviões? Não, ele sabia que não. Algum outro mal se camuflava naquele que estava por vir. Que versatilidade.
"Ainda sinto uma presença a mais, diferente do mal que se revela. Não parece maligna, mas possui uma estranheza peculiar."
Os aviões apareciam entre as nuvens, um acima do outro, tão pequenos e cinzentos. "Não foram captados pelos radares?" Vinham numa velocidade impressionante, cada um com um homem dentro, tão corajoso que daria a sua vida pelo seu país, por seus ideais.
"O que senti antes, agora aumenta. Tem algo aqui que eu não percebi. Não posso perder a atenção. É como se eu fosse trazido à uma emboscada, mas não percebida pelo mestre... Ou ele percebeu e quis que eu superasse este desafio? Mas qual desafio?" Olhou ao redor, elevando o cosmo a medida que os aviões aprovimavam-se; e este, invisível aos olhos humanos, foi abraçando o cume daquelas duas torres, trazendo calor e harmonia. Aiolos fechou os olhos, concentrando-se...
¤ Os aviões pararam de súbito, pegos pela energia que havia sido emanada do cavaleiro; e como uma energia maternal, ela proibiu os aviões de cairem e os sustentou no ar. As pessoas que haviam percebido o movimento dos aviões, assim que estavam próximos às torres, pararam assustadas, observando aquela "ilusão". O que deveriam estar pensando? E os pilotos de seus respectivos aviões, pensaram: "O que foi isso?"; "O que está acontecendo?", em seus idiomas, é claro. ¤