SER NEGRA

No início da madrugada de 20 de novembro de 2012, Dia da Consciência Negra

Ofereço a Fran, a J. L., a Estrela Radiante

Negra é a mulher que há muito tem sido e continua a ser a irmã e o anjo da guarda encarnado, meu e de minha mãe, mulher que nos ermos deste mundo segura-me os passos hoje feitos de hesitação e de dor.

Negra é a pele que me vai por dentro, pele-herança dos meus ancestrais.

Negros são os blues que me invadem, com todas as suas Línguas desde sempre feitas de saudade e de desterro. Negros são nossos sambas, feitos por negros e por brancos que se fizeram negros por escolha.

Negras são certas saudades: volúpia, sofrimento, êxtase.

Negras são as lindas canções cantadas pela filha daquele que foi meu companheiro, canções aprendidas com a mãe que, por sua vez, também as aprendeu com a própria mãe.

Negra é a negra noite, quando se sonham os sonhos mais profundos, esquecidos no acordar.

Negro de belezas é o silêncio dos amantes plenos um do outro.

Negra sou eu quando deixo que se acordem em mim as muitas áfricas, áfricas de dores fundas, inalcançáveis pela maioria das palavras.

Negra é a África, berço do mundo.

Felizes dos que se alegram, dos que se orgulham pelo negro, pela negra que todos carregamos por fora, por dentro; negritude que nos amplia, que nos ensina, que nos ultrapassa, que fere os nossos limites, para que possamos prosseguir.

Zuleika dos Reis

Republicação em 20 de novembro de 2012, Dia da Consciência Negra.