“Mulher virtuoso, quem a achara” (Pv.31) Ela nasceu em Correntina no dia 12 de outubro de 1916, inicio do século passado. Antes de Vivi não houve outra e depois ainda não se encontrou, uma mulher com tamanho amor e determinação pelo seu povo e sua terra.  Destemida e guerreira, Vivi rompeu as barreiras das tradições e desafiou o preconceito de um mundo machista. Foi a maior líder informal de nossa história e sem dúvida pode ser considerada a mulher do século, na história correntinense.

Sua vida a foi como a passagem de um meteoro brilhante, que influenciou todo o contexto ao seu redor, ou quem sabe um comete cuja cauda ainda brilha no céu nas noites de são joão...  Parte sua historia conheci de ouvi falar outra parte de ter vivido ao seu lado, no velho hotel, onde ainda pequeno, praticava como voluntário, no oficio de garçom e  menino dos recados e das compras na feira de sábado ou nas emergências, caçando ovos e verduras pelos pequenos galinheiros e hortas caseiras da cidade, para suprir uma inesperada demanda.


O registro comercial do era Hotel de Correntina, mas os populares deram-lhe o nome fantasia Hotel de Vivi e assim permanece até os dias de hoje; mesmo após seu fechamento em definitivo, três anos antes do seu falecimento, em 2001. O velho prédio eternizou-se como sendo Hotel de Vivi e nada no lugar tem a força de apagar este nome.
CASA COMBATE
(década de 30)

Valderina Coimbra Costa, filha do Capital da Guarda da Republica Miguel Soares Coimbra, seu Miguelzinho. Coração puro, viveu intensamente sua vida de dedicação e amor ao próximo, fosse ele menos favorecido, ou alguém que por algum motivo, batia a sua porta a procura de abrigo, conselhos, ajuda. Certamente seu comportamento despachado, alegre e sua estatura pequenina e esperta, lhe rendera alguns apelidos, como “a pequena notável”, apelido mais tarde atribuído a grande cantora Elis Regina.

 Foi uma mulher inovadora, empreendedora e autêntica. Tinha visão e altivez, opinião decisiva, quando convenceu o esposo, Rafael Martins a fechar as portas do comercio, diante de uma grande crise que atingiu o comercio naquela região,  antes que a falência fechasse as portas da Casa Combate de forma drástica (1940) e aproveitando a estrutura, Vivi então transformara o único casarão sobrado da cidade, no primeiro hotel.

O casamento de Vivi não podia ser diferente do que se esperava de uma mulher determina. Rafael Martins ficará viúvo e mostrou-se interessado por uma das filhas do capitão Miguel Coimbra, conhecida como Teté e lá foi ele num belo final de tarde, todo engravatado, pedir das mãos aos pés de Dona Teté e depois de todo floreio da “perdição”, que não é petição, Seo Miguelzinho e esposa adentram para o interior da casa para buscar a noiva e apresentá-la ao pedinte viúvo e o vexame então estava estabelecido.

Não teve santo que convencesse Teté a aceitar o pedido de casamento, do viúvo que a esperava na sala; nem bronca ou ameaças dos país foram capazes de mudar sua opinião. Teté, não era moldada para o casamento tanto é que viveu solteira todos os seus dias na face da terra. Mas como explicar aquele próspero comerciante de que seu pedido  fora recusado pela noiva? O que não seria o falatório pela cidade de tal recusado o seu pedido de casamento? Rafael na sala começou achar que o tempo já passava do limite e o interetete do bochichos era ouvido na sala quando Vivi toda emperiquitada adentra a sala e se dirige ao viúvo Rafael Martins: - Senhor Rafael, Teté recusou o seu pedido de casamento mas eu aceito casar-me com você e não vai ficar bem se você me recusar a filha do Capitão Coimbra!.


O Capitão Miguel e sua senhora chegam a sala e deparam com uma nova situação, não tinham mais que passar pelo constrangimento de ter que dizer ao viúvo de que ele fora rejeitado pela pretendida. Os país de VIVI conheciam a determinação da menina, então com 15 anos incompletos. A questão agora era saber se o viúvo iria aceitar casar-se com a menina vivi,  dez anos mais jovem que a pretendida Teté. Rafael Martins da Costa recusar a filha do Capitão seria uma situação mais constrangedora ainda diante da sociedade da época, o que faria o viúvo, diante da nova situação.

O noivo fora prudente em sua sabia decisão; sair daquela casa noivo era o motivo de sua visita e pelo visto, já tinha uma pretendida. Aceitou casar-se com Valderina,  precisa de alguém que cuidasse dos dois filhos órfãos um com oito anos, Raimundo conhecido por Iozinho e uma filha adolescente três anos mais nova que vivi, Jublia com 12 anos.  Vivi aos 15 anos já assumia a maternidade de dois filhos. Rafael Martins casa-se com Vivi, que passa a assinar o nome de Valderina Coimbra Costa.

Vivi teve um papel muito atuante na sociedade correntinense, fosse como patrocinadora de eventos, assistência social, aconselhamentos, o fundo do seu hotel mais parecia a porta de uma entidade filantrópica.
Sobrado

Além de desempenhar voluntariamente o papel de 1a. dama, na assistência social e na divulgação das potencialidades turísticas do município. Vivi cumpriu seu papel de mulher determinada e após sua viuvez, ocorrida em 1949, ela romper mais uma vez as barreiras do preconceito, vividos por uma mulher viúva, que se vestia de preto dia e noite, num luto eterno; mantém seu sorriso largo, suas roupas coloridas e uma mulher distante da cozinha e da prisão doméstica.

Sua estrutura de hotel dera suporte as dezenas de caminhoneiros que na ocasião faziam o transporte de passageiros nos velhos e saudosos “pau-de-arara”, exportando a produção da lavoura e pecuária e importando produtos manufaturados pelas grandes industrias da capital. Destacaram neste ocasião os irmãos Badecos, uma família de poloneses radicalizados em Goiânia e os irmãos Brandão da cidade vizinha de Santana dos Brejos, que estimulados por Vivi, acabam substituindo os velhos paus-de-arara pelas Jardineiras e depois onibus. Vivi mostrou a que veio ao mundo e ao lado do Reverendo Pa. Andre Berenós e Dr. Lauro Joaquim de Araújo tornam-se os maiores personagens de todos os tempo, na história correntinense, assistindo a população nas áreas sociais, da saúde e espiritual. Vivi fora uma mulher que vivia no presente o futuro, por sua visão privilegiada e pelo seu respeito a grandes e pequenos, pobres e ricos, para ela não havia classes, quando diante dela uma pessoas lhe apresentasse suas necessidades e seus conflitos.

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Maria de Iôzinho, Daniel  os bisnetos Dante e Felipe e o neto Javan - VIVI




Uma casa centenária que mantém até os dias de hoje a sua estrutura de adobe, uma mistura de água e barro que vence o tempo. O novo proprietário Weden di Sordi de Araujo Costa, filho de Raimundo Martins da Costa, logo, neto de Vivi; hoje a transformara numa casa de eventos que é aberta em ocasiões especial; alugada para batizados, aniversários, casamentos, serestas e shows ou para atender os poucos amigos, dignos de tal honra.
Do casamento Vivi teve dois filhos Iracy e Lázaro mas somente Iôzinho, ficou em Correntina, os outros logo que chegou o tempo certo partiram para fazer suas próprias vidas. Júblia filha por adoção, logo ganhou o mundo, partira para Juazeiro - BA, de lá foi para o Mato Grosso depois Rio de Janeiro e por fim Goiânia; Iracy mudou-se para o Rio de Janeiro e Lázaro para São Paulo, todos eles casaram, formaram famílias e por lá onde estavam, faleceram Júblia, Lázaro, Iôzinho.  Iracy hoje viúva, ainda mora no Rio de Janeiro, ao lado dos dois filhos Cidinha e Agnaldo Junior.



... Correntina fora rota das excursões de bandeirantes, quando esses desbravarão o pais, com suas tropas de mulas e cavalos, rumo ao centro-oeste; fora passagem do grande Anhanguera, o caçador de esmeraldas, Bartolomeu Bueno, que desbravou o Goiás. Nos 40 a 60, passa a ser rota dos caminhoneiros, caixeiros viajantes, vendedores de eletrodomésticos e produtos industrializados. O município então exportava muita matéria prima como peles e couros, farinha, polvilho, açúcar mascavo, rapadura, feijão, banha de porco e somente na década de 70 é que a beleza natural de seu rio, começa a ser explorado como força turística iniciada no Governo de Teófilo Guerra.

Na década de 60 o Hotel de Vivi atinge seu apso; a cidade se reunia em frente ao Hotel nos dias de partida ou  chegada dos caminhões pau-de-arara e depois ônibus. motoristas, ajudantes desciam exaustos e irreconhecíveis pela poeira,  entre eles estavam Vavá de Santa Maria, Zé Moreno de Anápolis, os irmãos Bandão e Bradesco.. Acenos de mãos e lágrimas dos que partiam e dos que ficavam, esperança que ia e sonhos desejados... eram as mesmas emoções dos que assistiam uma partida, que se repetiam na chegada dos paus-de-arara, adentrando a cidade numa buzinação sem fim; desde essa época Correntina já extravasava sua alegria em foguetórios, como se a chamar a todos, para receberem seus queridos que estavam chegando.

O primeiro ônibus da viação Bradesco ao adentrar a cidade, foi uma muvuca nunca vista na praça do hotel, centenas de pessoas e no palanque, políticos a proferiam emocionados discursos, onde um deles dizia: - "O futuro chegou! Mas quando Vivi tomou a palavra retrucou dizendo que o futuro nunca chega, estamos sempre trabalhando para conquistá-lo, precisamos agora do asfalto, para nos levar mais rápido de encontro ao futuro."  (FONTE: Iozinho)


Aos 32 anos de idade Vivi chega a Camara de Vereadores, confirmando ser o grande patrimônio ético e moral do município, defendendo cinco mandatos consecutivos, de 1948 a 1958. O mandado era por dois anos e não se recebia salário para o exercício do cargo.  Afastou-se da política em razão de seus compromissos profissionais, mas fora requisitada em 1962 para disputar o executivo municipal,  nem o mundo, nem  Correntina estavam preparados para aceitar a autoridade e a eficiência da mulher no poder;  o que questionamos é a competência do eleitor.

.Vivi e Padre Andre foram mais importantes que alguns prefeitos da cidade; muitas foram as viagens que eles fizeram à Brasília, para reivindicar recursos e melhorias para o município e o asfalto já era um utópico sonho nesta ocasião. Eles eram considerados como pai e mãe dos pobres, pelos relevantes serviços que prestavam,  as comunidades mais carentes; aplicando recursos próprios ou recorrendo a um e outro político, estadual ou federal, a caça de recursos para ajudar socorre-los com material de construção, roupa, remédios. 

Vencer 700 km até Goiânia era uma verdadeiro rali dos sertão. Brasília e Goiânia haviam se tornado a grande esperança dos baianos, do além São Francisco, que tinham melhores condições de acesso, em relação a capital do estado, Salvador, há mais de 1000km distante de Correntina. Mesmo na época das tropas de burros e cavalos; o Goiás era a grande esperança do povo correntinense a saída para capital era fluvial, via rio Corrente, depois navegava-se pelo São Francisco o que representa   até uma semana de viagem para chegar a Salvador, Rio ou São Paulo. Com abertura da primeira estrada, que era mais uma picada, o Goiás era o destino do futuro. 

Em agosto 1975, aos cinquenta e nove anos de idade, Vivi rompe mais uma barreira do preconceito e contrai matrimônio com um jovem de trinta anos de idade, que logo ficou conhecido na cidade pelo nome de Vivão. Para evitar o buchichos inconformados dos amigos, parentes e da sociedade preconceituosa, Vivi arrenda o Hotel e muda-se para Santa Maria da Vitória onde inaugura a mais moderna e equipada casa produtos veterinários de então. Foram anos alguns de plena felicidade para a velha guerreira, não sei precisar quantos, não chegou a dez e ela sofreu o tão anunciado golpe, de que todos falavam. Vivão foge numa madrugada, levando um automóvel e uma caminhonete lotados de produtos veterinários, além de limpar a conta bancaria, deixando contas e empréstimos a serem pagos. 



Vivi não se entrega, mas sofre um AVC, que lhe marca o rosto, deixando a boca torta, por alguns anos. Ergue a cabeça e com o prestigio de um nome honrado, consegue quitas todas as dividas  deixadas pelo gatuno Vivão e retorna ao velho Hotel em Correntina.

Aparentemente as coisas pareciam normalizadas, porém cansada e fragilizada, com tudo que havia passado, já lhe pesava nos ombros mais de 80 anos de idade Vó Vivi recebe o apoio da filha, que nunca lhe faltou nos momentos dificeis. Iracy Costa passa a vir com mais freqüência, do Rio de Janeiro para Correntina, assistir a velha companheira e  mãe.  Ajuda a reorganizar o velho Hotel  onde não mais contava com a fiel gerente, por mais de 30 anos, Maria de Vivi.

  
VIVI a filha IRACY  e os netos filhos de Iozinho e bisnetos Danilo e Lanusia.
No ano de 2001, aos 85 anos de idade, ela retorna para o céu, de onde com certeza veio. Voltou ao seu lar o anjo de bondade viveu em Correntina, servindo a todos que se aproximaram dela. Valderina Coimbra Costa, VIVI deixa seu nome na história e anais do legislativo municipal, sobretudo, no coração dos que eternamente hão de amá-la, como gesto de gratidão ao carinho recebido dela. Vivi foi a primeira e ainda única, mulher, a quebrar a couraça do marxismo e da intolerância, assim como fizera tantas outras bravas e fortes mulheres, na história da humanidade e os correntinenses tiveram em Vivi, o exemplo da força e determinação da mulher.

O poeta Teófilo Guerra, um de seus aliados político, eleito vereador em sua campanha a prefeita, companheiros de chapa, assim a descreveu em seus versos

VALDERINA COIMBRA COSTA
Teófilo Guerra

Ninguém viveu intensamente
Ninguém a vida amou com tanta compulsão
Ninguém teve o sorriso que Vivi sorria
Ninguém se deu no amor com mais sofreguidão.

Pequena, feminina
transpirava afeto na voz rouca e suave
um toque de doçura.

No olhar sempre a alegria a dissipar tristezas
Em cada gesto,
um jeito de insinuar ternura.
Na Câmara a primeira mulher a ser eleita
Primeira candidata a se propor prefeita.
Com nome nos anais perenes da memória.
Dinâmica inquieta, autêntica e despojada
presença singular, brilhante,
despachada não só marcou seu tempo
como fez história.
Valderina Coimbra Costa - Vivi !