O NAUFRÁGIO DA BARCA*
A brisa matinal revelava mais um dia de verão. Naquela manhã o velho carpinteiro, Manoel Pereira da Silva, conhecido pelo apelido de “Bem-Bem”, iniciava seus esforços para moldar a madeira através de seus serrotes, lixas, prumos, pregos, colas. Tudo daria forma à barca, “Rainha do Tocantins”, construída de madeira, a qual transportaria os cidadãos aventureiros para as praias, pescarias, passeios e, em compromisso os lavradores ribeirinhos. Em razão do árduo trabalho, em meados de 2000 a escultura, a barca, em artesanato invejável estava pronta.
A finalidade do uso marítimo tomava, então, os contornos necessários. Dia após dia a barca transportava sonhos, desejos, progresso. Mas o labor sugava-lhe a robustez, a resistência, devido o impacto da água. E, na terra, na lida diária o velho carpinteiro exauria suas forças. Seus fortes braços, sua estrutura óssea rendia-se ao desgaste físico. Assim, homem e barca seguiam para o naufrágio. A barca corroída pela ação da água já não flutuava suntuosamente e, aos poucos naufragou. O velho carpinteiro, vertido em lágrimas, mediante a sequidão de suas forças, também, naufragou no rio da vida, da existência terrena. Agora apenas a memória guarda a imagem da construção artesanal deslizando por águas caudalosas e do velho carpinteiro com sua prática em moldar, esculturalmente, a madeira.
Na linha do tempo, da existência, as construções que fazemos na vida são levadas ao naufrágio. A barca seguiu seu turno. O carpinteiro, “Bem-Bem”, assim o fez e, nós ainda vivos e, em pleno vigor construtivo chegaremos lá, pois este é o destino: o Naufrágio!
* Texto em homenagem ao meu avô Manoel Pereira da Silva, "Bem-Bem", um exímio carpinteiro.
Autor: Prof. Rubens Martins – ARN-TO., 26/10/2012.