A RINALDO BRANDÃO, do Recanto
Os sinos tocavam todas as mortes
por dentro de mim
a noite descera funda
tampa pesada
sobre os sonhos-resíduo
então recebi um comentário
sobre uma casa velha
demolida
a se lamentar entre entulhos,
entre os seus próprios entulhos
a se lamentar, pela própria morte
e pela partida dos que a habitaram
a se lamentar também
pela morte dolorosa
do jardim
um comentário
para esse poema
que escrevi há anos infinitos
de mim
poema chamado
A CASA NO FIM DA RUA
o comentário dizia
que esse poema
devia ser conhecido por todas as pátrias
e lares além do Atlântico.
Não eram bem estas as palavras
que o comentário, de beleza e de alma intraduzíveis
e conheci a poesia e a alma do poeta
e ele, poeta, conheceu minha poesia e minha alma,
o poeta que escreveu esse comentário
para a casa que um dia morreu no fim da rua
poeta que mora em Minas
que mora nas Gerais
ser que não conheço
pessoalmente
- o que é conhecer pessoalmente
uma pessoa?
Um dia julguei que o soubesse
hoje...
quase só restam dúvidas
uma de quase assassinar...
outras de quase enlouquecer...
O que é mesmo conhecer
a si, a outro alguém
em pessoa?
********************************************
Há, felizmente, ainda,
algumas amigas eleitas e eleitos amigos
que permanecem, incólumes,
no “ao vivo e em cores”
do chamado
mundo real
ao vivo e em cores
no meu e no deles coração
e há, ainda, nosso anjo encarnado - meu e de minha mãe -
e há minha mãe.
Em verdade, sou muito rica, mas, perdoem-me,
tão triste,ah, tão triste,
como só os poetas mais tristes o são.
********************************************
Poeta Rinaldo Brandão, do Recanto das Letras,
grande, imenso como as almas
grandes o são.
Poeta Rinaldo Brandão
meu irmão escolhido
meu escolhido irmão:
vem nestas frágeis linhas dizer um pouco do que és
e te tornaste
Zu, tua irmã escolhida
Zu, tua escolhida irmã.
************************************************
“De primeira”, neste início de tarde de 26 de outubro de 2012.