SAMORA MACHEL: UMA TENTATIVA DE ENTENDER O PUZZLE – DE NOVO!
Se estivesse vivo, Samora Machel completaria este ano (2012) 79 anos, o que constitui mais um motivo para celebrar e recordar este “Grande Moçambicano”, ícone e herói do país, da pátria e do povo moçambicano.
Este pequeno artigo apresenta alguns dos momentos mais conhecidos da vida de Samora Machel – numa sequência cronológica – isto é, desde a infância à fase adulta; de Samora filho a Samora Presidente e, consequentemente, uma passagem pelos aspectos do sinistro acidente que vitimou “Papá Samora”.
Samora Machel: O Filho
Samora Moisés Machel nasceu em Madragoa (hoje Chilembene), junto às terras férteis do Vale do Limpopo, hoje Chókwé, na província de Gaza, no dia 29 de Setembro de 1933. Neto de Malengani (que mais tarde recebeu, devido à sua coragem, o cognome de Maghivelani), um guerreiro de Maguiguane, o seu pai chamava-se Mandande Moisés Machel, um agricultor relativamente rico da zona. Desde muito cedo Samora Machel foi educado nas tradições da sua família, aprendendo daí a vontade de ser livre. Como qualquer criança da sua idade, Samora igualmente apascentou o gado do seu pai.
Samora Machel: O Estudante
Samora Machel começou a frequentar a escola quando tinha nove anos, na Missão de São Paulo de Messano, na altura em que o governo colonial português entregara a “educação indígena” à Igreja Católica, onde, além das elevadas propinas que pagavam, os estudantes eram forçados a cultivar os ricos campos da missão; mas Samora Machel fora educado como nacionalista e, como estudante, foi sempre um “sublevado”. Terminada a escola primária com muito esforço, Samora Machel, com cerca de 18 anos, quis avançar com os estudos, mas os padres só lhe autorizavam a estudar teologia pois o ensino secundário era proibido para os “pretos”, daí que Samora decidiu ir tentar a vida em Lourenço Marques (Maputo).
Samora Machel: O Empregado
Chegado em Lourenço Marques (Maputo), Samora Machel consegue se empregar no Hospital Miguel Bombarda (hoje Hospital Central de Maputo). A partir de 1952 frequentou o curso de enfermagem; e em seguida, à sua custa, numa escola nocturna, financiou os seus estudos secundários. Em 1956, foi designado como enfermeiro na ilha de Inhaca.
Samora Machel: O Combatente
Depois do encontro com Eduardo Mondlane que visitava o país em 1961, Samora Machel deixa o país em 1963 para juntar-se à FRELIMO que havia sido fundada em 25 de Junho do ano anterior, na Tanzânia. Consequentemente, o jovem enfermeiro Samora foi introduzido num grupo de recrutas (um dos primeiros) para receber treino militar na Argélia.
No seu regresso à Tanzânia, Samora foi imediatamente nomeado comandante. Posteriormente, Samora participa activamente no desencadeamento da luta armada em 25 de Setembro de 1964, elaborando os planos, seleccionando os comandantes e organizando a sua infiltração.
Em 1965, Samora Machel dirige o desencadeamento da luta armada no sector oriental de Niassa. Com a morte de Filipe Samuel Magaia em Novembro de 1966, Samora Machel foi indicado Secretário do novo Departamento de Defesa (o órgão que comandava a luta armada), tornando-se deste modo membro do Comité Central da FRELIMO.
Em 1967, Samora Machel criou o Destacamento Feminino (DF) para abranger as mulheres moçambicanas na luta de libertação. Depois do assassinato de Eduardo Mondlane em 1969, o Comité Central da FRELIMO, reunido em Maio de 1970, designa Samora Machel e Marcelino dos Santos para presidente e vice-presidente do movimento, respectivamente. Até 1974, Samora conseguiu organizar a guerrilha, de forma a neutralizar a ofensiva militar portuguesa.
Samora Machel: O Esposo
Embora não se considere um matrimónio oficial, Samora Machel casou-se pela primeira vez por volta de 1956/7, altura em que trabalhava como enfermeiro em Inhaca, com Sorita Tchaicomo, com quem teve quatro filhos: Joscelina, Edelson, Olívia e Ntewane.
Em 1969, enquanto decorria a guerra de libertação, Samora casou-se oficialmente com Josina Muthemba, uma guerrilheira (com ensino secundário) do Destacamento Feminino, de quem teve um filho, Samora Machel Júnior; Josina viria a falecer 4 anos depois (no dia 7 de Abril de 1973), vítima de leucemia. Em 1977 voltou a casar, desta fez com Graça Simbine (actual esposa de Nelson Mandela desde 1998).
Samora Machel: O Presidente
Depois do golpe de estado militar de 25 de Abril de 1974 em Portugal, acabou por ser assinado, em 7 de Setembro de 1974, o Acordo de Lusaka, culminando com a proclamação da independência de Moçambique a 25 de Junho de 1975. No mesmo ano, aprovada a Constituição da República Popular de Moçambique (regime socialista), Samora Machel é indicado para Presidente da República.
Como presidente, Samora Machel era carinhosamente conhecido como o “Pai da Nação” e “Papá Samora” para as crianças – as “flores que nunca murcham” – como ele chamava. Samora Machel era a favor do aumento da produtividade e contra a corrupção.
Bastante popular, um autêntico líder carismático, Samora Machel buscava desenvolver o país em bases socialistas (com o apoio da União Soviética). Nacionalizou a saúde, a educação, a justiça e as casas (incluindo os prédios). Lançou grandes planos de socialização do campo e introduziu a moeda nova, o Metical (1980).
Como presidente, Samora também apoiou a criação dos “campos de reeducação” no norte e no centro do país (locais para onde eram deportados os marginais, bandidos, etc.); as cooperativas de consumo, as "machambas" estatais e as aldeias comunais.
Samora Machel destacou-se igualmente como um combatente do internacionalismo, um obreiro incansável do estreitamento das relações entre a Revolução moçambicana com os países socialistas e forças progressistas e democráticas de todo o mundo.
Samora Machel agiu em prol do desenvolvimento da unidade africana, participou activamente na criação da Linha da Frente, era um pilar sólido e um defensor inabalável do Movimento dos Não-Alinhados e desempenhou um papel fundamental no processo da luta de libertação do Zimbabwe e da Namíbia e pela erradicação do apartheid na África do Sul. Samora Machel é igualmente co-fundador da SADCC.
Samora Machel: O Acidente
Samora Machel faleceu em 19 de Outubro de 1986, quando o avião presidencial (um Tupolev 134) se despenhou em Mbuzini (a área do acidente é conhecida por Ngwenyeni), território sul-africano, uma região montanhosa a cinco quilómetros da então Vila de Namaacha. Com ele morreram vinte e cinco (25) outros moçambicanos e seis (6) “cooperantes” internacionais. Entretanto, nove (9) nacionais e um cooperante russo sobreviveram milagrosamente ao acidente. Até hoje, as causas do despenhamento do avião continuam não muito claras, sendo que três teorias se erguem, nomeadamente, (i) a de sabotagem do avião presidencial, (ii) a de atentado e (iii) a de erro técnico.
De todos os modos, Samora Machel era um homem de princípios claros, coerência política e ideológica e disciplina consciente. Samora Machel é um ícone para Moçambique e uma imagem reconhecida a nível mundial. O Marechal Samora Moisés Machel era um homem comum que encarava o amor, o humanismo, a amizade, a solidariedade para com todos os mais desfavorecidos.
“Quem foi Samora Machel”? A resposta não tarda a chegar: Samora Machel foi um grande homem, um grande líder, um grande militar, um grande revolucionário, um grande ideólogo, um grande estadista amado pelo seu país e respeitado pelo mundo. Samora Machel é um herói moçambicano com brilhante exemplo de liderança; um ilustre líder africano e uma fonte de inspiração para o povo moçambicano. Falar de Samora Machel é falar da História da FRELIMO, é falar da História de Moçambique.
Recomendação de Leitura
Namburete, A., et al. (1996) “Samora Vive!” – 2ª Edição. CPF – INPF: Maputo.