MINHA MÃE e MÁRCIA, PRIMA QUERIDA
MINHA MÃE
No centro da parede, o retrato antigo, em meio-corpo, da adolescente com o delicado rosto sobressaindo dos cabelos castanhos, anelados, rosto a emergir do romântico vestido furta-cor, de tafetá. Na boca, sugestão de batom escarlate. Um coração de menina, com os sonhos todos intocados, intactos.
Desta menina operária, que ia a fábrica todos os dias e no domingo, a missa, quais poderiam ser os sonhos? Sonharia, talvez, com grandes realizações profissionais? Imaginaria para si uma professora, advogada, médica, engenheira, cientista... todas eminentes? Havia, decerto, muitas meninas, já naquele tempo, a tecerem semelhantes sonhos.
Ela, não. Sonhava apenas com um príncipe encantado a trazer, na bagagem, abraços, beijos e filhos. A FELICIDADE. Esta menina do retrato: minha mãe.
MINHA PRIMA MÁRCIA
Uma jovem senhora, linda, mãe de dois filhos adolescentes, minha muito querida prima Márcia é catequista católica. Tão bela, com uma vida confortável, cheia de charme, poderia levar vida de dondoca, no entanto, dedica sua vida ao bem-amado William, a Vanessa e a Leonardo, seus “meninos” e, acima de tudo, dedica-se ao trabalho da sua Fé.
Há um mês Márcia veio nos visitar, à minha mãe, que ela ama de paixão (como tia e madrinha que minha mãe lhe é) e a mim, que ela ama tanto quanto, desde sempre, amor fundamente recíproco. Em certo momento, conversando a sós, falando sobre sonhos, ela me confidenciou, acrescentando que era algo jamais contado a ninguém, nem mesmo a seu amado William, companheiro em todos os sentidos da palavra, do físico à transcendência mais funda, como dizia, ela partilhou comigo seu mais recôndito sonho e choramos, de pura emoção, abraçadas, após suas palavras:
“Sabe, Zu, qual o meu maior sonho, o maior sonho de todos? Quando eu me for, quando terminar meu tempo na Terra poder, ao menos por um segundo, ver a Face de Jesus e beijar-Lhe os Pés.”
No início da madrugada de 11 de setembro de 2012.