HOMENAGEM A FERREIRA GULLAR
HOMENAGEM A FERREIRA GULLAR
É preciso
Sujar-se de mundo
Para saber dizer
Quão vivo ainda se está
E ser capaz de achar
Alguma poesia
No submundo que é a morte de um filho
Ao invés de chorar e calar,
É preciso perdoar a palavras
Porque elas não levam ao exílio concreto
A que um país pode enterrar seus filhos
E nem torturam, como a morte tortura de ausência
O pai que dá adeus ao seu filho.
Acontece que, uma vez sujo de vida e de mundo,
Aprende-se a perdoar a própria poesia
E, ao invés de chorar ou calar,
Ergue-se o homem com ela
Para dizer que nesse mundo sujo
Só ela é capaz de viver e perdoar.