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Comandante Jonas é lembrado após 43 anos do sequestro ao embaixador dos EUA
4/9/2012 12:33, Por Redação - de São Paulo
Líder da resistência armada ao regime militar, no Brasil, o comandante Jonas – nome de guerra de Virgílio Gomes da Silva – liderou, há 43 anos, o sequestro ao então embaixador dos EUA no Brasil, Charles Elbrick. Após a ação vitoriosa em 4 de setembro de 1969, no auge da repressão, Virgílio foi trucidado pela ditadura militar, na prisão, poucos dias depois de conseguir a libertação de 15 presos políticos.
Durante as sessões de tortura, o comandante Jonas teve todos os ossos do corpo quebrados. O espancamento também atingiu seus órgãos vitais e o único a se manter intacto foi o coração, conforme ficou demonstrado na autópsia realizada após o assassinato, em uma uma sala da Operação Bandeirantes (Oban), em 28 de setembro, a chutes, pontapés e pauladas.
O então preso político Paulo de Tarso Venceslau, que também participou do sequestro a Elbrick, foi preso logo em seguida, em uma emboscada em São Sebastião, para onde foi em busca da família de Jonas, que já estava presa. Ele relatou os fatos ao filho, o repórter Pedro Venceslau, na edição de setembro de 2009, da revista mensal de esquerda Fórum.
– Me levaram para uma sala e me deixaram em um pau de arara em frente a uma parede cheia de sangue e com um volume, que disseram ser a massa encefálica do Jonas – lembrou.
Jonas tinha uma longa militância política. Nasceu no interior do Rio Grande do Norte e, como tantos nordestinos, aos 18 anos migrou para São Paulo, onde chegou a passar fome antes de se tornar operário têxtil, ativista sindical e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 1962, durante um comício pelo 13° salário, foi ferido a bala. Em 1967, deixou o PCB junto com Carlos Marighella, fundando a Ação Libertadora Nacional. Foi treinado em guerrilha pelas forças cubanas e, ao voltar, tornou-se um dos mais destacados chefes militares da ALN, tendo comandado dezenas de ações armadas.
‘Equívoco triunfal’
O sequestro do embaixador, que ora completa 43 anos, dividiu as opiniões na esquerda, ao mesmo tempo em que gerou distorções históricas após o lançamento do livro do hoje aliado à direita no país, o jornalista Fernando Gabeira, O que é isso, companheiro?. A carta lida no Jornal Nacional, da TV Globo, com a exigência do grupo de libertar 15 militantes de esquerda, entre eles José Dirceu e o ex-parlamentar comunista Gregório Bezerra, foi escrita pelo ex-ministro Franklin Martins, e não pelo ex-deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), como mostrou o filme baseado nos relatos do ex-coadjuvante da ação tática.
“A ideia de ‘capturar’ o embaixador nasceu de uma conversa entre Franklin, que havia recentemente passado para a Frente de Trabalho Armado do grupo, e Cid Queiroz Benjamin. A ALN já tinha decidido que faria uma ação de impacto, quando a dupla passou por acaso em frente à casa do embaixador, no Rio, e percebeu que não havia ali nenhum grande aparato de segurança”, lembra a revista Fórum. Como represália à participação no sequestro, Franklin ainda está proibido de entrar nos EUA, mesmo após pertencer ao primeiro escalão do governo.
– Eu nunca viajei aos EUA. E também nunca pedi visto, até porque ele seria negado e não quero passar por isso – afirmou em entrevista à Fórum.
“Quarenta anos depois do sequestro de Charles Elbrick, a maioria de seus integrantes reconhece que a ação acabou contribuindo para que o governo militar apertasse o cerco e ampliasse a violência contra qualquer tipo de reação, ainda que pacífica. No filme ‘Hércules 56′, o jornalista Flavio Tavares, que estava entre os libertados que foram para Cuba, cravou: ‘Foi nosso equívoco triunfal’. Já Vladimir Palmeira, que também integrou o grupo que foi beneficiado pela ação, foi mais incisivo. ‘Foi uma ação politicamente errada. A repressão que se seguiu matou o Marighella, o Jonas e deixou a esquerda na defensiva’.
O historiador Daniel Aarão Reis, que era da ALN e foi um dos idealizadores da ação, pondera. ‘A ação repousava na análise de que a luta estava em plena ofensiva. O Marighella anunciava a guerrilha rural para o ano seguinte e para nós era urgente dar um golpe no golpe na semana da pátria. O erro básico foi superestimar a dinâmica revolucionária nossa e da sociedade”, concluiu a reportagem.
Fort., 05/09/2012.