"Bem Bom, Bem Ruim"

Dizia ele: "sou bem bom, mas sou bem ruim." Ele, o "João Grande", o "João Condor", que, por sua tamanha envergadura, o chamavam assim. De braços estendidos, de uma mão a outra, havia mais de dois metros. É o que diziam.

Suas mãos, maestras do trabalho cirúrgico, tão grandes e abruptas que havia quem duvidasse da sutura tão precisa. Rude por natureza, Gaúcho por descendência, Enfermeiro Veterinário por proeza, Homem por transparência.

Vovô João, "...quanta saudade de dá, meus lindos tempos de piá, pelas veredas desponta, tu eras o touro da ponta do meu primeiro rodeio, que eu laçava pelo meio nas lidas de faz de conta...". Assim declamara Jaime Caetano Braum e, assim, era Vovô João.

Não havia hora nem imprevistos, não havia tamanho de bichos.

Quantos capinchos, potros vi gemer quando lhe davam a orelha,

Quanto gado vi adormecer do golpe certeiro no sangrador. Domador.

Perito na castração, assim era Vovô João: uma força descomunal, Homem de um coração até hoje não visto igual.

Sonegava fome, sono e frio.

Pela capa coberto num canto do rodeio, chapéu tapeado, surrado; cuidava de todos.

Só se ouvia o assovio.

Vovô João partiu...

Por vezes manda notícia,

Outrora deixa recados,

Segue vivo lá em cima,

Noutras coxilhas e pagos.

In memoriam a João dos Santos Neto.

04/09/1928 - 2002.

Demétrio Peixoto
Enviado por Demétrio Peixoto em 04/09/2012
Código do texto: T3865074
Classificação de conteúdo: seguro