“QUALQUER DIA A GENTE VAI SE ENCONTRAR”

Três anos se foram rapidamente. Parece que foi ontem que eu ainda podia falar contigo pelo menos pelo telefone. Ainda tento acordar do pesadelo de não ter você fisicamente, mas este tipo de sonho ruim, infelizmente, nunca acabará. Sinto muita falta de ouvir seus conselhos, seus carinhos, seu olhar doce que me tirava sempre dos abismos desta vida. Eu nunca vou me curar desta saudade imensa que a vida me impôs.

Muita gente nunca entendeu a nossa amizade, a nossa cumplicidade. Alguns até achavam que eu era o “queridinho da mamãe”, distorcendo um sentimento que estava acima de uma relação de família, consanguínea. A coisa sempre foi espiritual, universal, amplamente fraternal. Nos entendíamos no olhar, na pele, no ouvir, no falar, mutuamente, sempre estávamos conectados por uma amizade que, com certeza, fora traçada para nunca se romper.

Sim, você talvez tenha sido a minha única e maior amiga, acidentalmente minha mãe, mas acertadamente responsável pela minha vida durante 37 anos. A nossa sintonia foi uma das mais fortes que já vi na Terra e acho que nunca mais encontrarei uma pessoa que cale tão fundo na minha alma. Muitas vezes, me pego chorando copiosamente, pelo simples fato de te fazer uma prece. Esta minha emoção é porque, naqueles cinco minutos que todos os dias te dedico todo o meu coração, sinto você colada no meu peito, somos unidos por uma comunicação universal da magnitude do amor. Até nos seus últimos dias aqui no planeta, você não deixou de me amar e de enfatizar a sua amizade, pois resistiu por mais 30 dias para que a minha missão e a sua de encontrar o nosso querido Gabriel pudesse ser concluída. Vamos lembrar que os médicos davam como certa a sua partida, mas você saiu do coma bravamente e, enfim, 10 dias depois já estava em casa segurando o seu lindo neto. Eu nunca tive dúvidas de que você iria lutar pela história de nós dois, pelos compromissos que assumimos com Deus tempos antes de voltarmos para cá.

Missão cumprida, você pôde seguir o seu caminho. Decisão arriscada, porque você ainda tinha dúvidas se eu aguentaria a separação, mas o nosso laço de amor falou mais alto e a nossa sintonia fez você se desprender da carne tranquilamente, sem sofrimento, serenamente como tinha que ser. Te confesso que só aceitei a partida porque sinto além da carne, além deste mundo sujo, e porque confio friamente que sempre estaremos juntos. Era egoísmo, injustiça te ver angustiada, sem ar. E para você era injusto, egoísta, me ver triste, sobressaltado, nervoso, enfim, sem paz. De certa forma, decidimos juntos, sem dizer nada um para o outro, que a “sua viagem” era a única maneira de acabar com todos os sofrimentos. Decisão difícil, complicada, mas infelizmente necessária.

Três anos já se foram e poderão passar 3.000 anos, mas o que nos une, o que nos enlaça, o que nos conecta não será quebrado. Estou feliz porque você não morreu, tenho certeza disso... apenas se mudou para uma cidade melhor, de ar puro, suavidade integral, intensidade de sentimentos bons, sem corpo, órgãos, pulmões defeituosos, gente falsa, violência, hipocrisia. Na verdade, sem nenhuma das coisas ruins que existem aqui do meu lado.

Te mando um recado: qualquer dia, amiga, a gente vai se encontrar.

Te amo muito, dna. Beth, AMIGA QUERIDA! Para sempre vou te amar.

Feliz dia 30 de julho, dia do fim dos nossos sofrimentos. Dia da amizade completa!

Marcelo Smith

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