ONDE ESTÁ A QUINA?

A Quina criança não conhecia regras. Menina-moleque.

- Onde está a Quina?

Não se sabe. Nunca se sabia. Já cedo sumia.

Na colônia haviam cavalos, que montava em pelo.

Se a fome apertava, como se resolvia? Haviam frutas.

Também matava uma galinha, fazia a fogueirinha e comia. Conhece galinha caipira, aquelas mais caipiras ainda, que ciscam no terreiro, nos campos, soltas? Pois é. Corria até vencer a ave pelo cansaço ou pela esperteza de tantas tentativas - erros e acertos.

Podia também pescar. Sem vara, sem anzol. Tudo improvisado.

A pequena Quina se virava para comer, para brincar, independente, solta.

Os espaços na natureza também foram feitos para pensar. E a Quina pensava, admirava e sonhava. Sonhava em um dia, quando crescesse, pudesse manter sua independência, não precisar do por favor para fazer as coisas, apenas resolver-se a fazê-las e informar.

Onde está a Quina?

A menina aparecia já à tardinha. Haveria sempre de estar suja, despenteada e corada.

Menina-loira-quase-índia-quase-bicho. Independente.

Maria Joaquina Bargas Perez nasceu em 1906. Filha de espanhóis, nasceu em São João da Boa Vista, no Interior de São Paulo.

Casou-se na colônia com meu avô, Juan Antonio Perez, seu primo.

Soube por terceiros que viveram à época que as mulheres, no grupo, não poderiam sequer olhar ou cumprimentar quem não fizessem parte dele (seriam arrastadas pelos cabelos).

Com o casamento, veio para São Paulo. Dedicou sua vida ao trabalho, à família, às pessoas que necessitassem de apoio.

Livre, independente, autêntica. Minha avó. Meu exemplo de vida.

Maria da Glória Perez Delgado Sanches

Membro Correspondente da ACLAC – Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências de Arraial do Cabo, RJ.

Conheça mais. Faça uma visita blogs disponíveis no perfil: artigos e anotações sobre questões de Direito, português, poemas e crônicas ("causos"): http://www.blogger.com/profile/14087164358419572567

Pergunte, comente, questione, critique.

Terei muito prazer em recebê-lo.