Pra não dizer adeus.

Tributo a um homem bom.

 

Um grito, depois outro...

Seguiram-se muitos.

No inicio fortes, esperançosos...

Depois diluíam-se no barulho do

banzeiro. As águas, estas sim,

Fortes e soberbas açoitavam as pedras

como que querendo partí-las,

e assim, demonstrar sua força, seu poder,

não bastasse o reconhecimento temeroso e silencioso

reinante no peito de todos daquele grupo de amigos.

- Não podemos desistir - diziam uns.

- Nada podemos fazer - refletiam outros.

Nada mesmo. O destino acabara de fatalizar

uma de suas metas. Sua vítima? Alguém por quem

muitos lamentariam sua ausência por muito tempo;

alguém por quem tomariam uma dose de cachaça

e lhe ofereceriam um primeiro gole.

E haveriam de dizer: "Obrigado professor. Valeu..."

Diriam também: "Cantei e toquei para ele. Cantarei mais essa..."

(Quem seria o “magro” de suas pescarias?)

Lembrariam por muito tempo também a sua "marca registrada":

o braço erguido acima da linha da cabeça,

formando uma curva

complementada pela mão em concha e o indicador preguiçoso,

quando queria apontar algo;

como se traçasse uma linha curva no ar,

desviando algum outro objeto entre seu dedo e a coisa apontada.

Os filhos... a mulher... a ex... os amigos...

não teriam um túmulo para rezar,

depositar flores,

lamentar suas dores.

Não acreditariam no fato em si!

Esperariam por sua volta

tal nos contos da carochinha

até que o tempo apagasse ou maquiasse suas dores...

Dedicar-lhe-iam, algum tempo depois, um poema triste

que também acabaria esquecido num mural da cantina

onde muitos cafezinhos lhes foram servidos e só.

Num instante mais filosófico,

aqueles mais dados à poesia,

diriam que teria escolhido

aquela forma de voltar a simplicidade de sua origem...

e os mais intelectuais emblemariam:

"Da água todos viemos..."

Mas ali, naquele instante, a ira da cachoeira, intimidava todos,

ainda que alheia a todo e qualquer manifesto,

...fortes e soberbas açoitavam as pedras...

Algum dia alguém sentaria numa daquelas pedras

e gritaria seu nome

com todas as forças do seu silêncio

tal que nenhum outro ser vivo ouviria tal lamento.

A canoa... Os peixes... A tristeza... A lua meio escondida... O fim.

Um grito rouco se ouviu pela ultima vez:

Assis!

 

Chagoso, 1997