Uma ilha no céu
O céu está em chamas, mas o frio do alvorecer invernal não deixa olhos não atentos perceberem.
Há um vulcão espalhando sua lava que escorre tecendo teias sobrepujando a luz de Vênus.
Planeta teimoso que insiste em se mostrar mesmo depois da última estrela já ter ido se recolher.
E que já estava aqui antes de o Sol aparecer. Mas, mesmo durante o inverno, ele tem seu horário para cumprir.
O Planeta cumpriu seu dever e protegeu o céu das chamas, da lava vulcânica vinda das profundezas dum buraco negro.
As nuvens vão se dissipando num tom laranja vivo e a lava vulcânica apresenta uma escada Escheriana como um convite a descer aos céus.
Da minha janela não posso ver o Sol, o resto do mundo me impede. Entretanto essa Estrela tem suas formas de se anunciar, eu posso sentir sua fronte no horizonte.
Vênus, teimosa, ainda está lá, em plena luz do dia se torna quase difícil se recordar daquele esplendor que reinava soberano poucos cigarros atrás.
Maldita cena Hollywoodiana; um casal de pássaros passou na frente do planeta levando consigo minha capacidade de enxergar aquele reflexo perante a luz.
A explosão se acalmou, o azul celestial vai solidificando a lava vulcânica, as nuvens vão perdendo sua cor enquanto outras mais brilhantes tomam seu lugar, e assim presenciei a formação da primeira ilha que já vi no céu.
Palavras à toa jogadas no papel com a intenção de diminuir a frustração por não ter uma máquina fotográfica. Acredite, leitor, não há no mundo um céu como o de Brasília, não há arco-íris que se compare à delicadeza brutal da coloração do teto invernal dos momentos pré-inversão dia/noite, noite/dia. Não foram as estrelas, não foi a lua, foi a mistura guache roxo-laranja-rosa-verde no meio da água anil que despertou meu interesse pelo céu.
Isso foi uma confissão de amor.
Viernes, 29.06.2012 - 06h51