Vovó - 90 primaveras
Oi, Vovó querida! Mais uma primavera, minha bela flor do interior...
Sabe, Vovó, sou teu eterno devedor e admirador! Sem as revistinhas que a Sra. trazia, da extinta Editora Vecchi (Brasinha, Gasparzinho, Bolinha, Luluzinha), não teria desenvolvido o gosto pela leitura e, muito mais tarde, passados os alvoreceres da infância dourada, não teria optado pelo jornalismo. E a senhora sempre repetia que só tinha aprendido a ler, escrever e contar e que fugira da escola... Quanta visão teve minha Vovó! Seu neto acende agora um pobre incenso literário a ti, minha doce mineirinha.
Quantas lembranças, não é Vovó? A Senhora conta tanta coisa, querida, que meus olhos se enchem de lágrimas por sua memória prodigiosa. O corpo já não funciona, os passos são lentos, muito lentos, mas a cabeça vai longe, provando que o Espírito é muito superior à matéria.
Te amo, Vovó. Sou um quarentão que não esquece do que a Senhora fez por nós. Quantas vezes não carregou latas nas costas quando Mamãe, internada com tuberculose, não podia cuidar dos (até então) três filhos? Quantas palmadinhas "salutares" nos lombos dos netos tantas vezes ingratos? Me perdoa, Vovó querida, se te causei sofrimentos, se te fiz esperar à noite, nos tempos da adolescência e da faculdade, quando demorava a chegar em casa e a Sra. só ia dormir quando "tudo estava nos seus devidos lugares", não é mesmo? E as minhas respostas grosseiras, será que me perdoa, doce Vovó?
Eu sei que sim, pois seu amor por mim e meus irmãos é tão grande que jamais poderia "pagar", aliás, nem mesmo teria preço. Por tudo isto, Rainha das Alterosas, Meus parabéns por mais esta primavera.
De seu neto mais velho,
JÚNIOR (Cão maior da ninhada de mamãe Márcia)