A Pauliceia de Mário de Andrade...
Mario de Andrade: como um voyeur busca na sua pauliceia o rosto dos transeuntes que passam sem olhar no rosto uns dos outros. São Paulo em que o rico fica pobre de repente, e volta a ficar rico com as oportunidades ali encontradas. Mário, como Baudelaire, viu a multidão crescer desorientada pelas ruas da cidade. Imigrantes e emigrantes emprestam um novo rosto para a cidade.
Garoa do meu São Paulo_ Mário de Andrade
Garoa do meu São Paulo,
-Timbre triste de martírios-
Um negro vem vindo, é branco!
Só bem perto fica negro,
Passa e torna a ficar branco.
O poeta busca na garoa, símbolo maior da cidade de São Paulo o encontro das raças (branco e o negro) e o encontro econômico (rico e pobre), versejando sobre toda a desigualdade socioeconômica presente na cidade.
Meu São Paulo da garoa,
-Londres das neblinas finas-
Um pobre vem vindo, é rico!
Só bem perto fica pobre,
Passa e torna a ficar rico.Baudelaire escreve sobre Paris e outras cidades européias, como: um "mundo entranhado das metrópoles, e, sua realidade crua", sua negrura suja vinda do asfalto e da melancolia vinda da sua iluminação artificial, tudo vindo através do progresso rápido, tal como: a velocidade da maria fumaça circulando pelos territórios, o trem invadindo fronteiras e levando nele uma massa de imigrantes e migrantes . Mario de Andrade visualiza a garoa paulistana como o fog inglês e compara São Paulo como uma cidade fria , tanto no tempo, quanto no relacionamento pessoal.
Garoa do meu São Paulo,
-Costureira de malditos-
Vem um rico, vem um branco,
São sempre brancos e ricos...
A cidade de Charles Baudelaire foi Paris; a de Mário de Andrade, São Paulo, em um período de intensa urbanização e industrialização, que a tornaria o maior centro cosmopolita do país. O trem e o bonde nas cidades europeias e na paulistana de Mario de Andrade não fica marcado, como um simples meio de transporte, mas se incorporam ao cotidiano da cidade mostrando a imagem do mundo moderno. Mundo industrial e tecnológico, deste modo, símbolo do progresso.
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus. (de Lira Paulistana)
Ouça o poema clicando em:
http://www.youtube.com/watch?v=iL-TU5c8Uxk
O poema "Quando eu Morrer", também escrito no final da vida de Mário de Andrade (trecho sem título da coletânea Lira Paulistana), publicada após a sua morte, mostra o poeta fiel à sua cidade, tanto que, quer permanecer nela, feito um poema-testamento. E nem mesmo na hora da sua morte Mario deixa de ser irônico ao ver as mudanças ocorridas na sua pauliceia desvairada.
youtube
Fonte:http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mario-de-andrade/garoa-do-meu-sao-paulo.php#ixzz1xbIPPZmKv
Albuquerque, Severino João. "Construction and Destruction in Macunaíma." Hispania 70, 1 (1987), 67–72.