LAMENTO!

Lamento

Por ocasião do internamento de minha esposa

Não ouço tua voz meiga e querida,

Nem sinto a tua presença solidaria,

Porque uma doença atrevida,

Te tomou de maneira arbitraria.

Enche-se de tristeza a minha vida,

Envolta por uma neblina imaginaria,

Ao ver que não está mais acendida,

A luz que irradiavas para mim diária.

Hoje, privado da tua companhia,

Recordo o passado que caminhamos,

E observo como está escura e vazia,

A casa que tantos anos partilhamos.

É real a dor que me atormenta,

E a ferida que no coração sinto aberta,

Como real minha fé que em Deus assenta,

Que te trará a mim do mal liberta.

Não quero pelo desanimo ser vencido,

E suporto com fé a minha dor,

Ainda que sinta sobre mim, caído

O Mundo com seu peso avassalador.

Eu peço ao Senhor com veemência,

Te traga com saúde ao teu lugar,

Porque sem ti é vã minha existência,

E não tem motivos para continuar.

Que esta escuridão breve termine,

E tua luz de novo possa brilhar,

E como o Sol aqueça e ilumine,

As agora frias paredes do nosso lar.

Em trinta anos é a primeira vez,

Que me deixas só e abandonado,

Talvez para eu meditar na pequenez,

Que sou e em que me sinto mergulhado.

Nas coisas em que tinhas mais afeição,

Sinto que tua presença está aqui perto,

Apesar de reinar o silêncio, a desolação,

E ver que a nossa casa é um deserto.

Vejo á frente degraus demasiado altos,

Que eu não posso transpor sozinho,

Vem tu, livra-me deste sobressalto,

E faz comigo o resto do caminho.

Alberto Carvalheiras
Enviado por Alberto Carvalheiras em 04/02/2007
Código do texto: T369491