LAMENTO!
Lamento
Por ocasião do internamento de minha esposa
Não ouço tua voz meiga e querida,
Nem sinto a tua presença solidaria,
Porque uma doença atrevida,
Te tomou de maneira arbitraria.
Enche-se de tristeza a minha vida,
Envolta por uma neblina imaginaria,
Ao ver que não está mais acendida,
A luz que irradiavas para mim diária.
Hoje, privado da tua companhia,
Recordo o passado que caminhamos,
E observo como está escura e vazia,
A casa que tantos anos partilhamos.
É real a dor que me atormenta,
E a ferida que no coração sinto aberta,
Como real minha fé que em Deus assenta,
Que te trará a mim do mal liberta.
Não quero pelo desanimo ser vencido,
E suporto com fé a minha dor,
Ainda que sinta sobre mim, caído
O Mundo com seu peso avassalador.
Eu peço ao Senhor com veemência,
Te traga com saúde ao teu lugar,
Porque sem ti é vã minha existência,
E não tem motivos para continuar.
Que esta escuridão breve termine,
E tua luz de novo possa brilhar,
E como o Sol aqueça e ilumine,
As agora frias paredes do nosso lar.
Em trinta anos é a primeira vez,
Que me deixas só e abandonado,
Talvez para eu meditar na pequenez,
Que sou e em que me sinto mergulhado.
Nas coisas em que tinhas mais afeição,
Sinto que tua presença está aqui perto,
Apesar de reinar o silêncio, a desolação,
E ver que a nossa casa é um deserto.
Vejo á frente degraus demasiado altos,
Que eu não posso transpor sozinho,
Vem tu, livra-me deste sobressalto,
E faz comigo o resto do caminho.