A lenda de Ibirapitanga

A LENDA DE IBIRAPITANGA

Ironi Lírio

Sentado à sombra de uma árvore, o índio Abaré reunia à sua volta as crianças da tribo Tupi.

E com voz de pássaro choroso, embirrado com ciúme da floresta, apontava para um capão de mato que crescia na baixada:

- Naquela baixada grande, quase pertinho do mar, nascia a Ibirapitanga. Tão livre quanto os moradores deste lugar.

- Ibirapitanga era abençoada pelas mãos da mãe natureza Yacy, por isso crescia forte e vigorosa. E para agradecer, Ibirapitanga dava-lhe flores de presente. Flores tão amarelas e tão bonitas quanto as penas aisó da arara de cor ajubá. A mãe natureza Yacy ficava contente e lhe dava belos ramos. Grandes e encorpados. Seus filhos se espalhavam pela mata enfeitando a terra com suas flores que a cada dia multiplicavam-se cobrindo todo este vale kaá.

- Mas Ibirapitanga ficou ambiciosa e foi pedir ao sol Aram que lhe desse a cor vermelha como brasa de fogo para enfeitar o seu tronco. Queria ficar mais bonita do que era.

- Assim como Yacy, Aram também não resistiu à formosura de Ibirapitanga e atendeu seu pedido. Por isso, no mesmo dia, Aram deu-lhe de presente uma cor vermelha tão forte como está o céu.

E imediatamente as crianças olharam para o céu que mostrava uma cor vermelha alaranjada indicando ser aquele um gostoso dia de verão.

O índio Abaré continuou a contar sua história, admirando o olhar curioso de Kurumi na aldeia.

- Ibirapitanga era a planta aisó mais bonita da mata. Até o vento, cobiçoso de sua beleza, espalhava suas sementes por toda a terra. Queria que seus filhos crescessem e vivessem na mata até onde a vista não conseguisse alcançar.

- Mas um dia, quando os homens carí chegaram pelo mar, encheram seus olhos com a beleza da cor dos troncos da árvore e carregaram seus navios com a planta bonita, levando-a para longe de nossas terras. Os homens vinham com seus navios vazios e partiam cheios de Ibirapitanga. Nem mesmo as plantas menores escapavam dos machados gulosos dos abaités. Então, Yacy tentou impedir.

- Yacy colocou nos troncos da árvore grandes espinhos para repelir os homens carí, mas foi inútil. Ibirapitanga pediu socorro à Amanacy, a mãe da chuva. O tempo ficou Arani. Amanacy enviou raios e coriscos para espantar os homens carí, mas nada impediu que levassem a planta para longe, até ver que poucas delas ainda resistiam na mata, tentando crescer novamente.

- Um dia, cansada de ver seus filhos partirem nas embarcações dos homens carí, Yacy resolveu esconder as sementes da planta na mata e os homens que vinham buscá-la começaram a sentir sua falta. O vento não levou as sementes como sempre fazia e ficou cada vez mais difícil encontrá-la nas nossas terras. Até que um dia, cansados de procurar pela planta e não encontrar, os homens carí partiram com os seus navios vazios.

- Yacy sentiu-se aliviada, mas precavida como era, deixou por muitos séculos, a semente escondida na terra ibi sem germinar. Pediu ajuda para a lua Iwa que se escondeu do centro da mata e escureceu os raios do sol Aram para que a planta não pudesse crescer. Assim os homens carí deixaram de procurar por ela.

- Muito tempo se passou e um dia, como se Yacy quisesse presentear novamente os moradores de nossas terras, ela nos deu uma nova chance. Fez com que algumas sementes da planta Ibirapitanga fossem germinadas.

- Hoje, alguns pés de Ibirapitanga são encontrados para a admiração das pessoas que moram nas terras brasileiras, pois o nosso país recebeu este nome graças a cor da madeira da Ibirapitanga. A cor de brasa de fogo, presente de Aram.

- Por isso, ao olharem naquele capão de mato, peçam também à Yacy que ensine aos homens carí. Porque aquele capão vazio, que vemos agora, pode um dia voltar a ser tão bonito e repleto de flores amarelo alaranjadas da Ibirapitanga, como naquele tempo em que estas terras eram tão bonitas e livres quanto à planta que aqui crescia.

E as crianças da aldeia nunca mais se esqueceram de pedir à Yacy.

É por isso que hoje, algumas sementes de Pau-Brasil ainda insistem em germinar e viver nas terras do nosso país.

Fim

Dicionário Tupi

Abaré – amigo do homem

Abaité – gente estranha

Amanacy – mãe da chuva

Ama-tirí – raio, curisco

Aram – sol

Arani – tempo furioso

Arara ajubá – arara de cor amarela

Aamo, Iva, Iwa - lua

Carí – homem branco

Ibi – terra

Ibirapitanga – Pau Brasil

Kurumi - criança

Yacy - mãe natureza

Ironi Lirio
Enviado por Ironi Lirio em 22/05/2012
Código do texto: T3682118
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