Ascenso Ferreira o Poeta do Catimbó...
Ascenso Ferreira o poeta que levou a linguagem do povo para a criação literária da norma culta, foi saudado por Mario de Andrade que escreveu sobre o lançamento do seu livro Catimbó: " Catimbó é um dos livros mais originais do modernismo brasileiro." Apaixonado pelo viver do seu povo especialmente pela raiz negra. Conheça um pouco deste poeta pernambucano que nos ensinou a saudar o canto do povo aos olhos da contemporaneidade!
Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira nasceu na cidade de Palmares no ano de 1895. Dizem que começou a atividade literária enganado, compondo sonetos, baladas e madrigais. Depois da "Semana de Arte Moderna" e sob a influência de Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira e de Mário de Andrade, tomou rumos novos e achou um caminho que o conduziria a uma situação de relevo nas letras pernambucanas e nacionais. Ascenso cresceu em uma cidade de vida cultural relativamente intensa, para a época, e que era ambiente para despertar e estimular jovens vocações literárias. Foi no jornal de Palmares, A Notícia, que Ascenso Ferreira publicou seus primeiros versos, aos 13 anos de idade.
Nesta época a vigência da estética parnasiana era forte, mas afastada de suas motivações originais passou a neoparnasianismo.
O Poeta sempre estava com um grande chapéu de palha, tornando a sua logomarca.
Da fase neoparnasiana:
Mãe! – Símbolo supremo da bondade,
ser divinal! Angélica criatura!
Noiva! Sagrada imagem da ternura
repousando no altar da castidade.
No ano de 1916, juntamente com outros poetas, Ascenso fundava a sociedade "Hora Literária". Mas, por defender o abolicionismo, o poeta passava a ser perseguido politicamente. Anos mais tarde, sobre essa fase difícil da sua vida, o poeta escreveria:
"Mamãe foi demitida com 25 anos de serviço! Tivemos a casa pichada; fui vaiado um dia na rua; corrido acintosamente pela polícia; ameaçado de prisão... O estabelecimento de meu padrinho, devido a sua morte, entraraem liquidação. Fiquei sem emprego e sem ter ninguém em Palmares que me quisesse aproveitar os serviços, pois todos tinham receio de desagradar os senhores da situação."
ESTADOS UNIDOS-BRASIL_ (Lei de Empréstimos e Arrendamentos)
O negro velho falando para
o companheiro mais afortunado:
- Parente, você
está drumindo ou está acordado?
- Eu está acordado, minha parente!
- Minha parente, me empresta cinco mirrés!
- Eu está drumindo, minha parente!
Manuel Bandeira escrevia:
"Ascenso Ferreira tem uma estatura gigantesca, que, a princípio, assusta. No entanto, basta ele abrir a boca, para dissipar todos os terrores: é um sentimentalão, e sentimentalmente compreendeu e cantou o drama doloroso do matuto a quem ama [...] Os seus poemas são verdadeiras rapsódias nordestinas, onde se espelhou fielmente a alma ora brincalhona, ora pungentemente nostálgica das populações dos engenhos."
Pelas três-marias... Pelos três reis magos... Pelo sete-estrelo
Eu firmo esta intenção,
bem no fundo do coração,
e o signo-de-salomão
ponho como selo... Abertura do livro Catimbó
Declamava seus poemas em lugares públicos, como teatros, rádios, emissoras de TV. Figura de físico avantajado, teria se aproximado dos duzentos quilos e subido até a altura de quase dois metros. O uso de um grande chapéu define seu vestuário. Assim e mais, tornou-se bastante popular na Capital de Pernambuco, onde residiu e era diretor do Tesouro do Estado, função em que se aposentou. O poeta faleceu na cidade do Recife (PE), em 1965.
Bibliografia:
"Catimbó e Outros Poemas", Editora José Olympio - Rio de Janeiro, 1963
FERREIRA, Ascenso. Catimbó – Cana caiana – Xenhenhém: poemas de Ascenso Ferreira. 5. ed. Recife: Nordestal Ed., 1995.
LUNA, Luiz. Ascenso Ferreira: menestrel do povo. Rio de Janeiro: Editora Paralelo, 1971.
SILVA, Jorge Fernandes da. Vidas que não morrem. Recife: Departamento de Cultura, 1982.