João Pacífico: o Poeta do Sertão
"Fantastique, fantastique!" Aprendeu a falar João Pacífico, com a Madame Renée Verbist, sua patroa, e, na sua alma bondosa de caboclo paulista , tudo para ele, virou "Fantástico" ! Sua vida mostrou o grande poeta e músico (fazia música sem instrumento, tamborilando as notas na sua escrivaninha), um verdadeiro gênio comparado a Noel Rosa e Tom Jobim. Sem dúvida, a sua vida mesmo com o esquecimento do público, para ele, sempre foi:"Fantastique, fantastique!" Salve João Baptista da Silva , genial na poesia, Pacífico na bondade!
João Batista da Silva, nos idos de 30, quando convivia com os astros do rádio, ganho o apelido de Pacífico, ajustado à serenidade do interiorano, que evitava qualquer situação encrencada. Nascido na fazenda Cascalho, em Cordeirópolis (05/08/1909), neto de escravos, filho de mãe alforriada e de pai maquinista de trem, estava predestinado a uma vida de aventuras, alegrias e provações.
Personagem lendário da música caipira, faleceu aos 89 anos em 30 de dezembro de 1998, como a maioria dos "NOSSOS CAIPIRAS", esquecido pela mídia e pelo mercado. Sabe-se a princípio que deixou 256 músicas gravadas, 36 com Raul Torres, seu principal parceiro. Até o fim de sua vida manteve o hábito de compor batucando na mesa da cozinha, com uma folha de papel e um lápis na mão. Estima-se que pelo menos duas dezenas de músicas ficaram inéditas.
Nunca aprendeu música, mas ao criar três canções pro filme Cabocla Tereza, João surpreendeu a todos os músicos. Cantava as notas com precisão para que eles escrevessem as partituras.
"Um fiozinho d' água desviou de um riacho
Veio vindo serra abaixo e passou no meu pomar
Encontrou uma pedra, ficou sua companheira
Brincaram de cachoeira e aqui ficaram pra morar.
E hoje da janela eu contemplo a cachoeirinha
Que ficou minha vizinha desde que a vi nascer
Seu murmúrio doce é um verdadeiro canto
É quem me serve de acalanto para eu adormecer." (João Pacífico)
Em 1924, aos 15 anos, foi para São Paulo, onde chegou no meio de uma Revolução. Foi trabalhar como estafeta em uma fábrica de tecidos. Em 1929, voltou para Campinas indo trabalhar como copeiro na casa do bispo da cidade, Dom Francisco de Barros Barreto.
O amigo Bimbim, filho do dono da Rádio Educadora de Campinas, levou-o um dia para cantar e declamar naquela rádio onde acabou sendo contratado e tornou-se presença constante na emissora ao lado dos violinistas João Nogueira e José Figueiredo. Logo depois voltou a trabalhar no trem e num belo dia o cozinheiro lhe disse para fazer um verso que ele entregaria ao escritor e poeta modernista Guilherme de Almeida, que estava a bordo, em viagem ao interior. O poeta leu e gostou, em seguida mandou entregar um cartão de visitas ao jovem João e o mandou procurá-lo na Rádio Cruzeiro do Sul, em São Paulo, onde era diretor.
Emocione-se com Adauto Santos e João Pacífico (Chico Mulato) clique no endereço a seguir:
http://www.youtube.com/watch?v=789-behhGVE
Apesar da importante apresentação, teve de insistir muito para convencer o radialista e cantor Raul Torres a ler a letra da embolada Seo João Nogueira, que lhe rendeu um contrato na rádio e um convite para parceiro com o próprio Raul Torres. A música foi gravada na Odeonem 1934 e teve boa aceitação. Em janeiro de 1935 a gravadora lançou uma nova versão na interpretação de Raul Torres e sua Embaixada, com a participação da cantora Aurora Miranda. O disco fez enorme sucesso e animou Raul Torres a continuar a parceria com aquele jovem compositor. Na época gravaram várias músicas entre elas O Teu Retrato, O Vizinho me Contou, Coroa de Estrelas e Foi no Romper da Aurora.
Ouça Cabloca Teresa
http://www.youtube.com/watch?v=viQXwqrk0Rc&feature=endscreen&NR=1
Em 1955, aos 46 anos e com pneumonia, conheceu Deolinda Rodella (Deda), filha de italianos, separada, que falava vários idiomas e trabalhava como tradutora numa empresa de telégrafos. Ela o acolheu em sua casa e passou a cuidar dele até que se restabelecesse. No inicio foram amigos apenas. Mas a amizade foi crescendo e transformou-se em amor para sempre.
Em 1958, nasceu o único filho do casal que recebeu o nome do pai: João Baptista da Silva, o Tuca. João e Deda se casaram em 1983, após 38 anos de convivência. Dois anos depois nasceu a neta Ana Carolina, filha de Tuca, que daria muitas alegrias a João Pacífico. Para tristeza de João, Deda faleceu em 1990.
Com a morte de Deda em 1990, os atritos em família e a descoberta de uma doença grave, fizeram com que em 1995, João Pacífico aceitasse o convite para morar com Freddy e Maria Antonia no Sítio Pirangi, em Guararema, onde teve a possibilidade de passar seus últimos dias no campo, como ele desejava: tomando uma cachacinha na varanda, ouvindo modas de viola com os amigos ou brincando com os gansos à beira do lago. João Pacífico morreu no dia 30 de Dezembro de 1998, em Guararema, onde foi enterrado com a presença de poucos amigos que cantaram algumas de suas obras imortais.
Pequena Bibliografia:
"Música Caipira da Roça ao Rodeio", de Rosa Nepomuceno. Editora 34.
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
fotos google e músicas youtube
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.