Mario Quintana; como esquecer de você?

Mario de Miranda Quintana foi poeta, tradutor e jornalista . Nasceu em Alegrete na noite de 30 de julho de 1906 e faleceu em Porto Alegre, em 5 de maio de 1994, o Agenda Cultural Piracicabana presta uma homenagem a este homem que suavizou a vida com as suas tiradas alegres e jocosas. Fez da poesia um movimento de dosagem das palavras, procurava a síntese, o simples, o belo... Conviveu e escreveu sobre a morte com escárnio muitas vezes: " Idades só há duas : ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade." E, morreu... Quem se lembra da sua morte, se teve a ousadia de morrer junto a um famoso corredor automobilisto de sucesso? Eu me lembro de você, Mário Quintana, sempre! Saravá!

" Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão."

BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados

Deixa em paz os passarinhos

Deixa em paz a mim!

Se me queres,

enfim,

tem de ser bem devagarinho, Amada,

que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

" Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso ! sou é caladão, instrospectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros ?"

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam vôo

como de um alçapão.

Eles não têm pouso

nem porto

alimentam-se um instante em cada par de mãos

e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

no maravilhoso espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti...

Curiosidade sobre Mário Quintana:

## Foi no hotel Magestic em Porto Alegre a moradia do poeta por muitos anos , hoje Casa de Cultura Mário Quintana

Opinião de Quintana sobre as mudanças na cidade ocorridas através dos tempos:

"Olha, naturalmente o que mudou foi a arquitetura, não é? Eu vejo sempre uma cidade dentro da outra e lembro aquela cidade antiga. Mas pra me lembrar dela eu tenho que fechar os olhos ).

Porto Alegre, antigamente, era muito mais calma. Não havia tantos assaltos, tanta violência... eu nasci no tempo das vacas gordas. Antes, o leiteiro deixava o leite na porta de casa e ninguém roubava. Hoje roubam até as galinhas dos despachos. Os tempos mudaram, os costumes, mas a vida continua a mesma. Eu não sou como aqueles velhos que dizem: "Ah, os bons velhos tempos..." eu tenho vontade de dizer para eles: "Olha seu moço... seu moço, não, seu velho. Os tempos são sempre bons, o senhor é que não presta mais..." Mário Quintana.

+um Poema de Quintana

Os antigos retratos de parede

Não conseguem ficar longo tempo abstratos.

Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados

Porque eles nunca se desumanizaram de todo.

Jamais te voltas para trás de repente.

Não, não olhes agora!

O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim...

Sem fim e sem sentido.

Dessas que a gente inventava para enganar a

Solidão dos caminhos sem lua.

( livro "Esconderijos do Tempo - composto após os 70 anos de idade)

QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Porto Alegre: L&PM,1980.

"Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 118.

http://www.ccmq.rs.gov.br/novo/mario/mario2.php

Entrevista concedida à:Joana Belarmino e Lau Siqueira em 16 de janeiro de 1987.

foto Dulce Helfer

http://agendaculturalpiracicabana.blogspot.com.br/2012/05/mario-quintana-o-sarau-literario.html?showComment=1336061459068#c758414638779824120

Um presente para Mario Quintana:

Recantista Wilson Madrid poetou:

E no seu falar vai além,

voando feito passarinho...

Isso me lembra alguém,

ao Quintana com carinho...