O Carro de Boi para a família de João Carreiro
CARRO DE BOI
J B PEREIRA
Da imagem à poesia
Um passo mágico
No meu peito sinto
Uma saudade.
É a infância
Chegando ligueira
E a emoção de recordar
O tempo de brincar
Vendo ao longe o canto
Melancólico e insistente do carro de boi.
BENDEIRAS À FESTA DE SÃO JOÃO
J B PEREIRA
Era noite de São João
O céu estrelado
Era cheio de emoção e quentão.
Era pequenino
E todos no terreiro entoavam
Repentes ou cururu
Alimentavam sempre
A esperança e fé
De um mundo melhor.
Então, pedi ao meu João,
Primo de Jesus meu irmão,
A vontade de ser feliz
De novo e de repente.
E o milagre aconteceu
Novamente.
São João disse que sim;
Ser cristão e verdadeiro
Ser ético o ano inteiro
Para conseguir
Ser autêntico
Nem fingir que vai para frente
Se o mundo nos empurra de lado
Tanto consumo e jogatina,
Corrupção e maldade
O mundo está atolado.
Tenho fé que Deus se fez homem
E tanto sofreu e não em vão
Pois nos quer com ele do outro lado
E para isso abra o coração – uma fresta, um vão.
E todos atentos,
Seu João Carreiro convocou
Toda moçada e os antigos
Vem com nova toada
Um cururu de qualidade
Todos vão cantar de verdade.
Seguem os puxadores experientes,
Vem depois os que são colauros certamente,
E o santo e o padre na frente
A dizer coisa bonita para o devoto
Do santo que perdeu a cabeça
Por causa da ganância
De uma mulher dançarina
Na festa de Herodes
Como testemunho ao Jesus
Andarilho do Reino
Promovedor do Amor e da Salvação.
E todos à noite cantam certamente,
Uma nova estrofe com tanto cordeon,
Tanta viola, talvez banjo, o caruru
Não morreu, não senhor,
Apenas segredou seu silêncio
Para um povo de fé
Sabendo que outro lugar
Nova gente novo cantar
Vai começar.
São João continua a festa;
Seu João passou à hora certa,
Viajou em sonho ao Reino Celestial,
E nos aqui na história continuamos
Confiantes de que a chegada
Será triunfal e original.
O passado não volta,
Mas continua vivo dentro da gente,
Dos que contam e revivem a memória.
Cantam Teresinha Pires Alves,
Lembra Angelita Carreiro,
Filha de João Carreiro,
O Cururu está na mente de Thaís,
E as pinturas são de Cida Palú,
Tudo faz daquele espaço sagrado
O terreiro das crianças brincando
Um momento desejado.
Oiço o boi de longe;
O berrante ainda
E o carro de boi
Que se foi,
Com a memória em trilho trilhado
Na mente da gente
Ficando,
Pra o gado zebu e o maracatu,
Todos cantarem juntos e felizes,
Vozes e arredores,
Os de cá e dos de lá,
Versos improvisados
Emoção interessada
Na garganta e no coração
De fé e de devoção
Ao devotos do Divino,
De Jesus e de São João
O Batista de Deus.
João sorria
No Céu,
Na Terra,
Nossa morada,
O corpo e a alma,
Sacrário sagrado,
De projetos no Reino do Pai.
PALAVRAS DE GRATIDÃO E PESQUISA DE J B PEREIRA
Agradeço de coração a atenção e entrevista concedida e as informações para construção da poesia.
Esta poesia se refere à entrevista em casa de Teresinha Pires Alves, Angelita Carreiro, filha do falecido João Carreiro, que promovem Festa de São João e Caruru em São Pedro, SP.
A neta Thais explicou o Caruru.
Na garagem da casa, veem-se pinturas de carro de boi e casa com bandeirinhas coloridas.
As pinturas, já envelhecidas ainda nítidas, são de Cida Palú.
A entrevista foi feita no dia 14/04/2012, à tarde.
As casas e o quintal de verdes árvores e chão batido estão em frente à Agropecuária da Rua Coronel Aristides de Andrade, nº 562, São Pedro, SP.
Notas à parte e pesquisas de J B Pereira:
1. CANDIDO PORTINARI pintou de Brodosqui, SP. Também eternizou, na sua pintura, os motivos do nosso folclore, os temas da imigração como as festas populares e as bandeiras.
2. O carro de boi, ainda que pouco visto entre nós, existe pelo sertão e é meio de transporte de cargas e de pessoas na região rural e é comum nos festejos e nos concursos pelo Brasil afora.
3. Para o Novo Dicionário Aurélio (1999, 419), Caruru é nome de planta nutritiva, podendo ter outros ingredientes como peixes, camarões e o azeite de dendê. É também canto e dança variado com motivos religiosos do Brasil inteiro.
4. Para o Dicionário de Jaime de Seguiér (1955, p.229), carro de boi é para transportar cargas, tendo resguardo de grades e taipais. Há um desenho do carro de boi nessa página do dicionário citado.