MEU PAI
São passados seis anos desde a tua partida; nada desde então, digo, quase nada mudou.
O imóvel que nos abriga é aquele que acolhia o lar; nele ainda protegem-se teus entes queridos.
Às memórias reverberam as lembranças de tua face com o resplandecer dantes e que o será eternamente.
Cada amanhecer segue pondo-se com um quê de horas vazias. Semelhantemente, a luz não se apaga de todo nos vácuos de horas noturnas, como pretendesse clarear a vigília na perpétua espera por teu retorno, que nunca virá.
Pensamento é exímio artista; desenha teu semblante com o exato sorriso como nenhum outro saberia imitar.
Voz também aos ouvidos repete-se em ecos que reproduzem palavras nas frequências e entonações precisas de teus vocais.
Algo, no entanto, mudou: a saudade. Em substância e intensidade, é maior e mais profunda; multiplica-se, propaga-se por todos os limites da alma, penetra nos dutos dos sentimentos e evade-se das memblanas externas do coração.
Enquanto mais efetiva e extensa for tua ausência, será maior a falta ... e, igualmente, o amor a ti.