Ao nada

Eu queria uma canção para o nada. Para o nada na minha cabeça, para o nada no meu coração, para o nada em que me ocupo e dedico minutos longos de cada dia. Para tanta coisa que acontece a toda hora, com todo mundo, e chegando à mim se resume em nada.

Eu queria uma canção que falasse da cor no trajeto pra casa, da luz quase branca de dentro do ônibus, difusa e sem intensidade, misturando-se com a luz amarelada e e indecisa dos postes, que iluminam a vida no tráfego e às vezes a morte também.

Eu queria uma canção que lembrasse as vezes em que falam ininterruptamente e até gritam e gargalham próximo de mim sem que eu entenda uma só palavra, dos momentos em que minha mente se transporta para um lugar distante, próximo apenas das minhas inquietações, dos meus dilemas, dos planos incompletos. Nesses momentos de leve transe, quando um: "Ei, o que foi?" interrompe, sempre recebe a mesma resposta: "Nada." Verdadeiramente eu só estava entretida no meu conflituoso julgamento interno.