TRÊS ORQUÍDEAS*
 
As orquídeas do mosteiro fitam-se com seus olhos roxos
Elas são alvas, todas de pureza,
Com uma leve mácula violácea para uma pureza de sonho      triste, um dia.
 
Que dia? Que dia? Dói-me a sua brevidade.
Ah! Não vêem o mundo. Ah! Não vêem como eu as vejo.
Se fossem de alabastro seriam mais amadas?
Mas eu amo o eterno e o efêmero e queria fazer o efêmero eterno.
 
As três orquídeas brancas eu sonharia que dirassem,
Com sua nervura humana,
Seu colorido de veludo,
A graça leve do seu desenho,
O tênue caule de tão delicado verde.
 
Se elas não vêem o mundo, que o mundo as visse.
Quem pode deixar de sentir sua beleza?
Antecipo-me em sofrer pelo seu desaparecimento.
E paira sobre elas a gentileza igualmente frágil,
A gentileza floril
Da mão que a trouxe para alegrar a minha vida.
 
Durai, durai, flores, como se estivésseis ainda
No jardim do mosteiro amado onde fostes colhidas,
Que escrevo para perdurardes em palavras,
Pois desejaria que para sempre vos soubessem
Alvas, de olhos roxos (ah! cegos?)
Com leves tristezas violáceas na brancura de alabastro.
 
*Último poema de Cecília Meireles, escrito no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, em agosto de 1964