TRIBUTO A MIM NO MG DISCO
ESTAMOS AQUI HOJE PARA HOMENAGEAR A MULHER QUE UM DIA, POR PURO PRAZER E TOTAL LIBERDADE DECIDIU VESTIR-SE DE HOMEM E EXPRESSAR-SE ATRAVÉS DE GRANDES VOZES MASCULINAS.
COMO AMIGA E TRESTEMUNHA DESSE FACTO, AFIRMO QUE HELENA CORREIA É A GRANDE REFERÊNCIA DO TRANSFORMISMO NO FEMININO DESTE PAÍS.
DE PROFISSÃO PROFESSORA GRADUADA
VIAGEM MOMENTANIAMENTE ATÉ FINAIS DE 1968 E IMAGINEM A HELENA CORREIA A ASSUMIR-SE COMO HOMOSSEXUAL PERANTE A SOCIEDADE… ATRAVÉS DO JORNAL O PÚBLICO E DIÁRIO DE NOTÍCIAS.IMAGINEM A CORAGEM E A LIBERDADE DE MENTE QUE HABITAVA NESTA MULHER.
IMAGINEM TAMBÉM O REVERSO DA MEDALHA A ESTA FORMA DE ESTAR NA VIDA.
DE UMA COISA PODERÁ SEMPRE GABAR-SE. FOI UMA DAS LÉSBICAS QUE MAIS HOMENS TEVE ATRÁS DELA: A PIDE (POLICIA DE INTERVENÇÃO PORTUGUESA)
DECLAROU GUERRA AO Governo fascista pela sua cédula pessoal e identidade ter sido Assumida.
Para que conste certa noite, estando em convívio numa casa particular, casa de um amigo, onde faziam show como divertimento e por puro prazer, recebem a visita dos homens que a perseguiam. Foi presa, bem como todos os que estavam presentes.
Foi acusada e condenada
AS ACUSAÇÕES FORAM POR: SER LÉSBICA E AMANTE DA ARTE DE FAZER TRAVESTI
A CONDENAÇÃO FOI: PRISÃO.
ENQUANTO DECORRIA O PROCESSO. ESTEVE 3 DIAS NOS CALABOIÇOS DA PJ QUE AO SABER DO GOSTO DESTA PELO MAR, SIMPATICAMENTE TRANSFEREM-NA PARA CAXIAS, QUE ERA UMA PRISÃO LIGEIRAMENTE MENOS APETECÍVEL…
Os Pais conseguem a sua libertação. NÃO ANTES DE SOFRER OUTRAS ACUSAÇÕES, DESTA VEZ SEM O CARIMBO GOVERNAMENTAL.
Foi acusada e condenada pelos amigos e a sua vida privada e profissional foi devassada.
É ENVIADA PELA FAMÍLIA PARA Barcelona e lá fica até meados de1972
Volta de Barcelona e a sua vida privada torna-se ainda mais pública.
ESTREIA-SE nesse ano NO SCARLATTI BAR, A CONVITE DA GUIDA SCARLATTI, ENTÃO NO AUS DAS NOITES LISBOETAS
Continuou a dar que fazer à PIDE quando foi capa da revista do Século Ilustrado, acompanhada com GUIDA SCARLATTI e RUTH BRIDEN, factos que estão documentados.
FOI ENTREVISTADA NA MESMA ÉPOCA PELA REVISTA PLATEIA E O CORREIO DA MANHÃ
E DEU QUE FALAR…
Teve vários passeios nocturnos, por esta Lisboa ainda então amordaçada, em viaturas especiais. Cliente assídua da ramona, bem como outras pessoas e colegas, entravam e saiam das instalações da PIDE, como quem ia à Brasileira tomar um café em ambiente divertido.
Nesta fase, já não ficavam presos e sim de baixo de olho…veio o 25 de Abril e o tormento foi rasgado pelos cravos e pelo direito a ser quem era…
Persistente e corajosa, continuou a APARECER. Participou em algumas galas organizadas pelo Carlos Castro e Maria Margarida. Deu uma entrevista na rádio VOX dirigida pelo António Cerzedelo e continuou a ser notícia.
Teve uma conversa privada com ela mesmo e decidiu “quero ser como sou”
E invadiu os palcos da noite da capital.
Passou pelo Memorial, Tramps, Rocambol, Drogaria, Finalmente, Folies, Acapulco, Cave Mundial, Sitio bar, onde a Sr.ª. D. Ivone Silva fez questão de ser a madrinha da estreia do show, intitulado: Alcapone.
Actuou em algumas discotecas no Algarve e mais tarde, decidiu abrir o seu próprio bar.
O Bairro alto em 1983 tinha na Rua da Rosa, uma placa dourada à porta com a inscrição: Gay Bar. Ao BAR deu um nome SUGENERES: SALTO ALTO e foi mais um palco na sua vida.
Dirigiu alguns espectáculos, com grandes artistas do travesti da época: Armando Duval,
Fanny Star, Zázá, Valeria Vanini, Edit Piaf, Lídia Barlof, Xinita Xangai, Belle Dominique,
Wanda Morelly, Zizi Mayer, entre outos.
De 1993 fez parte da direcção da ILGA Portugal, com Gonçalo Dinis, Marita Ferreira, Ana Nogueira entre os demais, onde defendeu os direitos dos homossexuais nas lutas de rua e em alguns festivais de cinema Gay lésbico de Lisboa
Os anos passaram, retirou-se do palco dos espectáculos, mas nunca se retirou do palco da vida. A dada altura, tal como no início da sua carreira, com o objectivo de divertimento aceitou o desafio da amiga e grande actual referência do transformismo feminino Betty Santos e voltou a brincar do que é:
Uma grande artista.
Recomeçou os seus shows informalmente no La Calle, seguiu-se o Pretty Charneca, até subir ao palco num show elaborado que está em cena há mais de um mês nesta grande e referencial casa nocturna, a convite de Betty Santos e do MG na pessoa de Miguel Santos.
O MG homenageia hoje a mulher, a artista, a referência, o transformismo no feminino, a arte, na pessoa de Helena Correia.
Hoje sobe ao palco desta casa mais uma vez e sempre que subir a um palco, uma frase irá provocar.
Ela é a Helena Correia… A primeira mulher a fazer transformismo neste País.
Helena Correia continua fiel à sua essência e continua nos dias de hoje a sussurrar entre a música e o microfone:
QUERO SER COMO SOU
E NÃO PRETENDO MUDAR…
Senhoras e senhores, amigos, recebam com um forte aplauso Helena Correia
ESCRITO POR LURDES MOURA