SE VOCÊ ENCONTRASSE MACHADO DE ASSIS...
           
homenagem a um escritor imortal
           

  

           Se você encontrasse Machado de Assis, perguntaria como escrever romances, como delinear pessoas abstratas e complexas, ou faria apenas uma simples homenagem como esta ? Se eu tivesse a possibilidade transcender o tempo, gostaria de, talvez, conversar com o grande Machado de Assis e perquirir como ele conseguiu impregnar nas letras os vestígios tão profundos da essência humana. Sim, os personagens dos livros são seres da abstração que refletem nossa alma, além de nossas visões e perspectivas mais íntimas. São, ainda, seres que a imaginação delineia nos moldes dos sentimentos, sob infinitos ângulos e formas.

          E nesta arte, Machado de Assis foi impecável, como outros grandes escritores: a arte de edificar personalidades.  Veja como os "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" da Capitu marcam  a trama de "Dom Casmurro", conferindo-lhe um tom indelevelmente enigmático. Ainda veja como a célebre frase "ao vencedor as batatas", presente na obra "Quincas Borba", propicia uma feição irônica e, ao mesmo tempo, fortemente humana, a um dos personagens mais curiosos da literatura machadiana, o filósofo do humanitismo. E o que dizer de Brás Cubas ? Muito intenso, em sua célebre frase: "não me casei, não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria". Forte trecho literário, impregnado de uma perplexidade humana que enseja reflexões infinitas, como vários dos personagens de Machado de Assis. 


      Foi por essa genialidade que  o realismo machadiano conseguiu transcender o tempo e se solidificar na literatura brasileira, de forma permanente.