IPÊ ROXO
Eu não sei. Juro! Se a casa que me viu nascer,
Ainda resiste de pé ou foi desmoronada,
Mostrou-me a vida situações voluntárias.
Eu não sei, se conseguiu me esquecer,
Passado o tempo, minha primeira namorada.
Parti sem rumo, usando asas imaginárias.
Sei do meu velho, por noticias que me vem;
Já bem velhinho, bem velhinho, ancião.
Causam sofrer – eu sei – os seus distantes;
Resiste ao tempo – ipê roxo – resiste bem;
Briga com a saudade, a tempos, luta em vão!
Somos difíceis até como visitantes!
Ai, como sinto saudades de meu torrão!
Andando por outras paragens, mundo afora;
Abrem-me chagas, as lembranças de lá.
Eu merencório recordo meu velho, João.
Longe da minha terra; bem longe agora,
Eu sempre sonho com as praias do Ceará.
Praias lindas, águas calmas, verdes mares;
Onde jangadas deslizam, e, jangadeiros
Em árdua faina, pescam lagostas e peixes.
Pra esses homens, seus ofícios são prazeres.
No fabricar da jangada, são os primeiros;
Os seus contentamentos, são em feixes.
Estradas longas, onde rumo ao infinito,
Trafegam costumeiros sonhos do viajor;
E, consolidam-se quiçá, tarefas abstratas:
As divisões em país, estado e distrito
Que não limitam o espírito do sonhador;
Apenas, criam tristes almas burocratas.
E fulgente, longe, depois do horizonte,
Elementos da árvore genealógica, vejo,
Onde sou galho, e, tenho um pé na África.
Além do ascencional bugrismo gritante,
Sou galego, miscigenado, vim de além-tejo,
Donde gentil galerno a alma refresca!