SEIVA DE SOFRIMENTO
11 DE MARÇO DE 2012
Única flor entre alguns lírios
Nasceu ela de um idílio
Com bases fortes no amor
Amor que se fez plangente
Aos raios de um sol latente
E muito cedo acabou
Seu pai era um moço belo
Trazia um coração terno
E era um bom lavrador
Não lhe faltava o alento
Da esposa que era o sustento
Nas horas de amargor
Antes do nascer do dia
Sem acordar a família
Partia ele apressado
Por escabrosos caminhos
Onde o semeio era o arrimo
De um sonho compartilhado
Uma lavoura pequena
Que herdou a duras penas
Em um singelo recanto
Foi seu mais belo troféu
Dádiva sublime do céu
Um lenço a secar-lhe o pranto
Entre as folhas ressequidas
Que ali foram estendidas
Já se notavam fileiras
Embalsamadas de orvalhos
As verdes ramas do alho
Brincavam sobre os canteiros
Pouca gente, tem a sorte
De transformar o seu dote
Numa única plantação
Mais esta foi a bagagem
Que diga-se de passagem
Lhe fez aumentar seu chão
Alguns anos de alegria
Muitas festas na família
Da nossa pequena flor
Certo dia um vento brando
Talvez que vindo dos andes
Trouxe-lhe um sonho de amor
Um charmoso gondoleiro
Com um sorriso certeiro
Flechou-lhe o coração
E aquela flor formosa
Se fez carente e dengosa
No jardim de suas mãos
Primaveras e quimeras
São lírios de Deus na terra
São flores do coração
E o que lhe restou somente
Foram três lírios vigentes
Nascidos dessa paixão
Um vento vindo do norte
Um dia trouxe a má sorte
Ao jardim da meiga flor
Numa insana tempestade
Sugou-lhe a felicidade
Levando seu grande amor
Tão cruel foi o destino
Que nem o mais frágil arrimo
Ele soube respeitar
E numa nova fluente
Levou sua mãe doente
Para seu amor cuidar
Hoje você chora triste
Mais o seu tronco insiste
Em não se pender ao chão
Cresce firme rumo ao céu
Trocando-lhe o escarcéu
Por provável redenção
Estimada flor pequena
Que se faz grande e suprema
Aos olhos de quem lhe vê
Sua estória e um exemplo
E seiva de sofrimento
Sublimando o nosso ser!