RETOCANDO O BATOM:

EM HOMENAGEM À VITALIDADE DA MULHER:

Logo cedo ela já estava lá, como de praxe, a aguardar a sua consulta, e como sempre, há exatamente vinte anos ela vinha com a mesma queixa, só que agora, ao invés da filha, vinha acompanhada da sua bisneta.

-Bom dia, dona Carmem!

-Nem tanto doutor João, hoje eu estou morrendo...mesmo!

Eu já avisei o senhor, e faz tempo, mas o senhor nunca acreditou em mim!

-Mas... de novo, dona Carmem?- isso é uma antiga impressão sua, a senhora está sempre bem viva, e feliz dia internacional da mulher para a senhora!

-Mas eu não sou internacional doutor, eu sou daqui do bairro mesmo, e esse sim é que será o meu último dia, olha isso, o meu coração não pára de bater...ele bate muito, e já bate há noventa e cinco anos! É demais! Eu já fiz de tudo nessa vida doutor. Trabalhei no campo, criei dez filhos, oito netos e cinco bisnetos. Essa é a minha caçulinha bisneta.

-Então viva a vida, dona Carmem! E dê graças! Ainda bem que seu coração bate bem batidinho...

-O senhor nunca me entende, examina aqui ó doutor, olha isso, e o senhor vai escutar bem lá dentro... que não estou mentindo, não!

Minha pressão deve estar em zero com esse calorão! Então eu suspendi o...suspendi o...o seu maleato...

-Meu maleato? Ah sim, o maleato, disse o doutor que procurava se encontrar naquele gigante prontuário...de vinte anos.

Depois do exame daquele coração que batia com a exímia perfeição de sempre, mais esperto e decidido do que nunca, o doutor concluiu:

-Beleza, coração forte hein dona Carmem?- parece que a senhora só tem vinte anos!

-Isso não é possível doutor, porque eu estou morrendo...há bem mais de vinte anos.

E a bisneta diagnosticou:

-Doutor, minha mãe diz que faz mais de vinte anos que ela diz isso...mas dá de dez a zero em todo mundo lá de casa...

Nota:

Neste dia internacional da mulher eu gostaria de aqui fazer da dona Carmem, que é uma senhora real, um símbolo de homenagem à fortaleza da mulher, principalmente de muitas delas, anônimas senhoras que existem entre nós, as que já adentraram a quarta idade com o mesmo vigor da luta de sempre e que, embora muitas vezes debilitadas pelo tempo e pelas doenças, ainda são as pilastras dos lares, portanto, de suprema importância dentro do funcionamento das células da nossa sociedade.

São muitas as que ainda sustentam as famílias com sua garra biológica debilitada, seu apoio emocional incondicional, e muitas vezes também participam com a contribuição financeira principal do lar.

Foram mulheres guerreiras de ontem que construíram o nosso futuro, e tanto contribuíram historicamente para que o reconhecimento do papel social da mulher fosse devidamente consagrado nos dias de hoje .

Sabidamente também não é fácil ser mulher "moderna". Os tempos são difíceis.

Embora tenhamos lutado pelo reconhecimento do nosso imprescindível papel social é certo que acumulamos um fardo nem sempre fácil de carregar.

Mas estamos aí!

Mães, esposas, donas de casa, colegas, amigas, profissionais de absolutamente todas as áreas técnicas do conhecimento, decerto somos seres dotados de algo especial, quiçá um "sexto sentido" indomável, que nos mantém mais alertas, expectantes e atuantes nesta quase incansável maratona de vida.

Se o cansaço nos abate, então suspiramos fundo, mas só um pouquinho, para depois retomarmos o fôlego de prosseguir no nosso inabalável propósito de ser, aquele pelo qual sempre lutamos e do qual jamais abriremos mão.

Mas antes de seguir...claro, retocamos o batom...só para colorir o cenário do mundo.

Parabéns a todas nós, mulheres que fazemos a diferença na história das nossas grandes conquistas, ainda que na inaparente fluidez do nosso dia-a-dia.

Exatamente como ainda o faz a dona Carmem...no auge dos seus respeitáveis noventa e cinco anos.