Não deu tempo ... ou Não houve tempo ...
Há nove meses, você morreu, mãe! E isso, nós não combinamos.
Sabe, o tempo para nós foi muito pequeno ... Reconheço que tanto eu errei como talvez, você também. Por quê? Porque não falamos de nós, das nossas vidas, vontades, sonhos, angústias, cuidados, prazeres, deveres, frustrações, amores, sexo ... Sei lá! Agora, já é tarde e o tempo passou ... e não deu tempo. E, eu não sei dizer o que sinto ... Mas, ah! Que saudade de você! Do que falou e fez ou do que não falou e não fez. É muito difícil!
Por que, mãe, você nunca me disse "eu te amo" e eu também não! Será que tivemos vergonha de revelar nosso sentimento? Não sei! Mas de uma coisa eu tenho certeza, o cordão umbilical não foi cortado, por isso me sinto presa a você e, agora, só. Na realidade, o tempo para nós existiu, mas não soubemos aproveitá-lo, porque quando você dizia que estava sofrendo, eu não liguei, agora, sofro mais. Ou quando se preocupava comigo, eu não ouvia e deixava pra lá. Será que precisou você morrer para eu conseguir escrever?
Estou sofrendo muito, muito ... porque é difícil disfarçar a dor da perda. Ainda mais quando as pessoas que nos cercam, pensando que nos aliviam, lançam mão de chavões como: "A vida continua", "Dê tempo ao tempo", "Que remédio, não é!", "Que bom que ela não sofreu" e EU?
Mas, das coisas boas, eu me lembro muito bem, principalmente porque sempre, você, me deu força em tudo o que pretendi realizar, ouvindo atenta as minhas histórias com um brilho de orgulho no olhar. Só que agora não existe mais tempo ... Porém as futuras conquistas, você vai acompanhar de outro lugar, tenho certeza!
Por um momento, eu jurei para mim mesma que ia cuidar de você. Mas não deu ... Cheguei a fazer planos, todos inúteis. Será que foi melhor assim! Tudo acabar tão rápido para mim, porém devagar para você. Não sei! Não sei exatamente o que você sentiu, mas agora eu sinto tanto que ninguém imagina. A dor não passa, mãe, mas ameniza porque eu preciso sorrir, brincar, falar como antigamente quando conversava com você. Tenho certeza de que as pessoas não crêem o quanto custa fingir sorrisos, brincadeiras e falações.
Mas estou fazendo muita força para "viver" de novo, porque preciso e gosto do meu trabalho e da minha família. E tenho certeza de que você quer que eu seja feliz!
Até breve, mãe!
Silvia Terezinha
Escrevi este texto, na época(maio de 2003) com muita emoção e o coração sangrando. Fiz questão de publicá-lo no Dia das Mães.
Hoje, janeiro de 2007, a saudade imensa continua, mas não a tristeza, porque sinto a presença dela a todo o momento.
Vivi emoções diferentes em cada palavra. Sensações só minhas ...