Nielson Anjos: Um guerreiro em prol do teatro de rua
A História de Vida de um militante que defendia a cultura popular
Por: José Orestes Lopes
Em 2001, eu e mais alguns alunos de banca (reforço escolar), tivemos uma excelente idéia, fazermos uma pequena comemoração dentro das festividades juninas, com muitas dificuldades conseguimos realizar no bairro Duda Macário, a nossa festa junina. Não recordo a data da festa, mais lembro bem o que aconteceu na frente da minha casa criamos uma pequena quadrilha, casamento na roça, e o desfile da rainha do milho. Não tinha muitas pessoas... “Mais recordo de um jovem que disse: - O ano que vem quero entrar na quadrilha”. E neste momento surge uma amizade fiel, um laço fraternal.
NIELSON DOS ANJOS SANTOS, um jovem franzino, fala firme, risonho e um sonhador... No ano de 2002 o projeto batizado por Chapéu de Palha cresceu mais um pouco e o público percebeu algo diferente a quadrilha trouxe uma versão espojada os homens todos vestidos de mulher e as mulheres de homens foi magnífico, os comediantes em destaque Nielson (21) e Sandro de Oliveira (21) estavam lá arrancando risos soltos do público de forma bem caricata ambos conseguiam movimentar o público levando-os a participar ativamente. Quando a festa terminou já estávamos eu e Nielson discutindo como seria a festa do ano seguinte os projetos e os sonhos eram muitos e a quadrilha dentro do projeto Chapéu de Palha tornou-se Moças Bonitas e onde a “Moças’’ passavam levantavam multidões. Nielson sempre conosco de forma sempre espontânea e extrovertida trazia sempre pronto o seu enorme e famoso sorriso. ETA que saudade!
Escrever estas poucas linhas sobre Nielson, embora não seja tarefa simples me permite trazer reminiscências é dividir essas boas lembranças sobre um homem que contribuiu na diversidade cultural da nossa cidade embora tivesse Nielson pouca idade, ele conseguiu mostra os seus sentimentos pela sua terra e pela cultura nordestina.
Nielson nasceu em Euclides da Cunha, mas poderia ter nascido em qualquer outro canto como em Canudos, cidade que ele tinha muito respeito e admiração ao falar sobre Antonio Conselheiro e a guerra de Canudos, Nielson defendia com unhas e dentes essa nossa historia, tanto é que fez questão de assistir ao espetáculo “Guerra de Canudos”, bem como atuou no espetáculo que foi montado em Euclides da Cunha que tinha o mesmo titulo, leu os sertões de Euclides da Cunha e fez um trabalho sobre a saga dos conselheiristas. Nielson também amava muito o local onde nasceu e fixou residência no bairro Duda Macário seu primeiro grande palco. No bairro Duda Macário Nielson buscava compor suas obras primas e seus mais divertidos personagens: Zé das Jegas, Palhaço Bule-bule, seu Astrogildo dos Rêgos, Pai de Ximbica entre outros.
Conseguiu ser palhaço, menino, ator e professor. Até porque Nielson ministrou várias oficinas fora da cidade, como também na sua própria cidade. Com humildade e respeitando a todos Nielson, conquistou o respeito e admiração de muitos.
No ano de 2003 convidei Nielson para participar de uma oficina de teatro que aconteceu aqui no próprio bairro Duda Macário na igreja Catarina Citandini, percebi veia cômica e sentia que o mesmo levava o enorme jeito para o teatro, queria vê-lo compor o elenco da Cia. Teatral Alma De Aprendiz. Em 27- 03-2004 Nielson fez sua primeira atuação em um, palco conhecido por todos em frete a minha casa, estávamos apresentando o recitam ‘’ONDE TEM BRUXA TEM FADA’’ de Bartolomeu Campos Queiros, Nielson com o seu jeito espontâneo procurou chamar a atenção do público e se distanciou demais do grupo e com isso dificultou as falas, e acabou entrando em uma roça e com isso demorou mais do que o necessário, cerca de uns dez minutos, atrasou o espetáculo e fomos procurá-lo, de repente Nielson apareceu todo assombrado e no final justificou sua demora a uma dor de barriga. Mesmo com o atraso o grupo foi elogiado. No inicio eu fiquei revoltado, mas depois começamos a rir. Em setembro de 2006 entreguei a direção da Cia para Nielson que automaticamente buscou transparecer um trato próprio para o grupo. Certa vez conversando com Alfredo Junior ele disse: “Nielson, trás uma nova identidade para o grupo, e isso mostra que ele aprendeu muito...” Gostei muito de ouvir as palavras de Alfredo, pois percebi que Nielson estava conseguindo amadurecer e realmente tinha conquistado seu próprio espaço dentro da cultura cênica, sua atenção e sensibilidade para o teatro estava notório, dedicação exemplar, com isso percebi que o teatro estava ganhando uma peça rara. No mesmo ano de 2006, mais precisamente em julho pedir a Nielson para organizar a animação do aniversário de meu sobrinho, o tema que escolhi foi circo e automaticamente nos reunimos para discutirmos como iria ser desenvolvido o trabalho passei as coordenadas para Nielson e pedi ao mesmo que montasse o elenco: Joseane Santana, Adriana Cunha, Luiz Cláudio, Bruna Pereira, Alessandra Pereira, Tamires Passos, Gedeon Anjos, Cristiano Boy, Josiele Ribeiro, eu e, é claro Nielson, estávamos todos caracterizados como palhaços. Estávamos animando o aniversario de meu sobrinho. Pela primeira vez, Nielson se vestia de palhaço e desde esse momento nascia o personagem mais marcante na vida desse grande ator. Palhaço Bule-bule.
Muitas coisas aconteceram em 2006, na vida de Nielson inclusive ele estreou seu primeiro trabalho como diretor da Alma de Aprendiz mais precisamente em novembro o espetáculo “O Rico Avarento” adaptado da obra de Adriano Suassuna.
Sempre atento na divulgação do teatro ele estava sempre buscando informações onde estivesse, procurava coletar livros, pedir emprestado, ir para a Lan house, comprava como também emprestava desde que devolvesse do mesmo jeito era condição primordial. Participou de vários encontros a respeito do teatro aqui e em outros lugares da Bahia, o interesse de Nielson era aprender/absolver o entendimento com a cultura popular e mais consideravelmente o teatro. Um homem que se virava nos trinta para correr atrás dos seus sonhos um eterno palhaço com alma de alma de aprendiz. Um verdadeiro militante a favor do teatro de rua, da cultura popular apaixonado pelos estudos, cursava História na Universidade Estadual da Bahia, mais sonhava em fazer Artes Cênicas, na Universidade Federal. Era um dos maiores sonhos desse guerreiro. Um verdadeiro lutador. Com sua entrada na universidade Nielson estava buscando se profissionalizar gradativamente. Sempre que vinha em casa procurava falar sobre a universidade e seus mais secretos sonhos... Sempre mencionando: - Meu mestre! Hoje percebo que aprendi muito mais do que ensinei.
Um homem sem preconceito buscava conhecer para daí expor suas opiniões. Participante ativo da FANEOB, GUARDA MIRIM, REIZADOS, Professor do Pró Jovem Urbano. Montou em 2005 um grupo de teatro “MENSAGEIRO DA ARTE”, que como o próprio me dizia: - A gente da um jeito, José e se vira nos trinta. E paralelo a Alma De Aprendiz, Nielson dirigiu seu próprio grupo. Era ator/diretor/contra-regra/iluminador em fim exercia varias funções queria aprender estava curioso com o movimento cênico. Fez vários trabalhos voluntários, mas não esquecia no momento de folga trocar conversa solta com os amigos e ler sua outra grande paixão. Amava literatura e lia até cinco livros paralelos, ouvindo Betânia ou qualquer outro clássico da MPB sua grande paixão. Isso acontecia durante todos os dias e meses do ano exceto em junho e início de julho que seu coração palpitava forte por forró e simplesmente dedicava-se a essa grande paixão.
Nielson dos Anjos Santos, um homem de palavras firmes e de uma sabedoria transcendental apaixonado pela cultura pelas coisas da sua terra e de sua gente, um amante do teatro.
Pela sua coragem, pela sua auto-estima, pela sua forte personalidade e dignidade será sempre bem lembrado entre nós! Da minha parte só resta agradecer pela sua amizade, pela sua presença direta, meu afilhado querido, meu palhaço, meu eterno e saudoso amigo. Seus textos serão eternamente lembrados pelo teatro de Euclides da Cunha e pelo Grupo Cultural Chapéu Palha, pela quadrilha Moças Bonitas e pela Cia Teatral Alma de Aprendiz.
Muito obrigado Nielson!
Orestes Moura, 04 de maio de 2010.