A elegia que não deveria existir
Minha homenagem àqueles dois que, apesar de trilharem caminhos tortuosos, foram bons exemplos para mim. Viverão sempre em minha memória, orgulho-me das coisas que me ensinaram, lembro-me com carinho dos momentos que vivemos, sinto por não tê-los visitado sempre e arrependo-me por ter escrito tão poucas cartas. Lamento a minha incapacidade e impotência em fazer qualquer coisa para alterar os acontecimentos. Nenhum dia passará sem que eu lamente tais perdas. Quero acreditar que ainda olham para mim e quero que se orgulhem sempre, assim como fizeram em vida.
Em um dia tantos risos
Fui jubilante viajante
Ilusório paraíso
Inocente visitante
Nunca viu o sofrimento
Daquele que tantas vezes
Se encontrou em desalento
E as angústias tão vorazes
Levaram-no do mundo.
Ligação na madrugada
Caio em abismo profundo
Ao ver a mãe apavorada
A saudade perdura
Passa o tempo e segue a vida
Pensar traz amargura
Lembrança nunca é esquecida.
Aquele que restou
Sozinho segue a viver
Muitas vezes chorou
Nada se pode fazer
Viajo agora indeciso.
Um dia o telefone grita
E o outro se vai sem aviso
Fatalidade maldita
Duas vidas que se foram
Deixam o corpo suas almas
Muitos agora choram
Choram sem derramar lágrimas
Calejados, já entenderam
Da vida, a efemeridade
Pensam no que está além
Da vida em continuidade
Observam conformados
Pensam no dia que se vai...
Sofrem assim, calados
Pensam na noite que cai...
Poucas vezes procuro
Motivos para viajar
Por estar tão seguro
De que não há o que visitar
Mas sempre me ensinaram
Distância? Isso se supera
Meus atos influenciaram
Do abismo que nos separa
Lá do desconhecido...
Lembrança não se desfaz
Do que um dia foi vivido
Que todos tenham a paz.