A elegia que não deveria existir

Minha homenagem àqueles dois que, apesar de trilharem caminhos tortuosos, foram bons exemplos para mim. Viverão sempre em minha memória, orgulho-me das coisas que me ensinaram, lembro-me com carinho dos momentos que vivemos, sinto por não tê-los visitado sempre e arrependo-me por ter escrito tão poucas cartas. Lamento a minha incapacidade e impotência em fazer qualquer coisa para alterar os acontecimentos. Nenhum dia passará sem que eu lamente tais perdas. Quero acreditar que ainda olham para mim e quero que se orgulhem sempre, assim como fizeram em vida.

Em um dia tantos risos

Fui jubilante viajante

Ilusório paraíso

Inocente visitante

Nunca viu o sofrimento

Daquele que tantas vezes

Se encontrou em desalento

E as angústias tão vorazes

Levaram-no do mundo.

Ligação na madrugada

Caio em abismo profundo

Ao ver a mãe apavorada

A saudade perdura

Passa o tempo e segue a vida

Pensar traz amargura

Lembrança nunca é esquecida.

Aquele que restou

Sozinho segue a viver

Muitas vezes chorou

Nada se pode fazer

Viajo agora indeciso.

Um dia o telefone grita

E o outro se vai sem aviso

Fatalidade maldita

Duas vidas que se foram

Deixam o corpo suas almas

Muitos agora choram

Choram sem derramar lágrimas

Calejados, já entenderam

Da vida, a efemeridade

Pensam no que está além

Da vida em continuidade

Observam conformados

Pensam no dia que se vai...

Sofrem assim, calados

Pensam na noite que cai...

Poucas vezes procuro

Motivos para viajar

Por estar tão seguro

De que não há o que visitar

Mas sempre me ensinaram

Distância? Isso se supera

Meus atos influenciaram

Do abismo que nos separa

Lá do desconhecido...

Lembrança não se desfaz

Do que um dia foi vivido

Que todos tenham a paz.

Paulo de Carvalho Dias Mendes
Enviado por Paulo de Carvalho Dias Mendes em 03/02/2012
Código do texto: T3478708
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