Colcha estampada

Historinha baseada na música Couro de boi, de Palmeira e Teddy Vieira. É um dos grandes clássicos do cancioneiro caipira e foi gravada por Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Sérgio Reis e muitos outros.

“Conheço um velho ditado do tempo do Zé Gaio. Diz que um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai.”

O velho metalúrgico aposentado estava viúvo havia mais de cinco anos. Quando perdeu sua mulher de toda vida, parecia ter perdido também o chão em que pisava. Para não viver só, pediu a uma de suas filhas, já casada, que o deixasse morar com ela. Com o passar dos anos, porém, seu genro deu para implicar com o velho. Apontava defeito em tudo o que o sogro fazia. Até que certo dia emparedou sua mulher.

- Ou você pede para seu pai ir embora de casa ou saio eu.

Pressionada e com medo de perder o casamento, ela resolveu conversar com o pai.

- “Para o senhor se mudar, meu pai, eu vim lhe pedir. Hoje, aqui da minha casa, o senhor tem que sair.”

Ela disse que seu marido achava o sogro vagabundo, não fazia nada, bebia no boteco, dormia no sofá com a televisão ligada, fazia xixi fora do vaso, comia fora de hora etc etc. A filha pegou uma mala com as roupas do pai, que já havia separado antes, e uma sacola com uma colcha estampada dentro.

- Esta colcha, que eu mesma fiz, é “pra lhe servir de coberta onde o senhor dormir”. É bem grande, dá até para dobrar no meio e ficar mais quente. O seu salário de aposentado dá para pagar um quarto de pensão. Depois, a gente arruma outro lugar para o senhor ficar. Agora, meu pai, vá embora antes que meu marido chegue.

O velho pegou a mala e a sacola, deu um beijo na filha e saiu a passos lentos. O filho do casal, de 12 anos, assistiu àquela cena, escondido atrás da porta. Assim que o velho pôs o pé na rua, “correu atrás do avô, seu paletó sacudiu” e pediu para que o velho lhe desse metade da colcha estampada. Sem entender o motivo, mas para não ver o neto chorar, o aposentado cortou metade da peça e deu para o garoto, que o beijou e voltou para casa. O velho retomou seu caminho rumo ao desconhecido.

Assim que entrou em casa, com o tecido na mão, a mulher pergunta porque o filho fez aquilo. O menino disse à mãe.

- Um dia eu vou me casar. A senhora vai ficar velha e comigo vem morar. “Pode ser que aconteça de nós não se combinar.” Esta metade da colcha vou dar pra senhora levar.