MAINHA
MAINHA
Ela parece uma menininha educada. Sabe dizer as palavras mágicas: por favor, desculpe, muito obrigada, aliás o que ela mais diz é essa última.
A grande professora agora parece ficar o dia todo em diálogo os anjos. Frágil e delicada, vai do sofá para o lavabo, do lavabo para o sofá, do sofá para o lavabo, do lavabo para o sofá...
Abro o álbum de fotos e a vejo quase bebê, menina, uma alegre e elegante estudante, lecionando, cantando, declamando, namorando, enamorada.
Uma delícia foi seu início de carreira de professora. Ia com ela para a zona rural e me fartava de brincar. Muitas vezes, ficava esquisita e se isolava; hoje entendo que deveria ser a tal da TPM.
Quando em casa, corrigia, corrigia e corrigia provas. Conversava com meu pai em inglês, geralmente à noite, depois da lida diária com os alunos.
Foi uma mulher ímpar. Professora noa anos 50. Negra. Aliás, o casal era ímpar naqueles tempos. Ninguém recitava "Nega Fulô" como mainha.
Sensível, certa vez, salvou um cachorro da morte e levou-o para casa. Mosquito viveu muito tempo entre a gente.
Eu a acompanhava sempre que era permitido: aos ensaios do teatro, às salas de aula, a uma Instituição de Caridade da qual foi fundadora, às aulas de acordeon... e ela sempre esteve comigo nos momentos mais tempestuosos!
Ao vê-la atualmente neste estado de dependência, apenas registro a criança Lourdinha e, como adulta, as benfeitorias que proporcionou.
Sua benção, adorada mamãe!
Fabília
15/04/2011
Obs: Mamãe é viva, tem 81 anos e sofre de mal de Alzheimer.