SEU ANIVERSÁRIO DE 21 ANOS
O privilégio de ser mãe é algo inenarrável. Até é possível descrever algumas nuanças, mas transmitir em palavras tudo que sinto, não dá. E minha trajetória como mãe teve tropeços, claro, mas na soma final acho que fiquei no positivo. E que fique explícito que fui mãe, mas fui pai também, em vários momentos.
Já aguentei muita coisa em minha vida, muita mesmo. Algumas raras pessoas sabem disso. Mas ninguém, ninguém em sua sanidade perfeita, consegue ver um filho sofrendo sem sofrer junto. E por tudo que existe de mais sagrado, é o sofrimento mais sofrido, a dor mais doída, a exaustão mais rápida que pode acontecer nesse meu coração de mãe.
Sempre, desde o início mesmo, tentei ser uma mãe-amiga. Quando ainda estava em meu ventre e conversávamos o dia todo, quando bebê em que trocava carícias e massagens antes do banho, na hora de amamentar em que nossos corpos se colavam e eu tentava passar todo meu calor pela pele, quando aprendeu a engatinhar e eu mal podia esperar que chegasse até meus braços, e nos primeiros passos em que cada queda eu corria para socorrer. Foi o primeiro ano de momentos intensos e marcantes.
Durante a infância foram tempos de aprendizado, para nós duas. Enquanto ela aprendia a falar, escrever, socializar, brincar, eu reaprendia, reafirmava e repassava os valores morais que escolhi seguir. E chegou a puberdade, as mudanças de fora acontecendo, enquanto as mudanças de dentro transbordavam nas atitudes e palavras. Que fase incrível…
Já a adolescência, essa chegou como um furacão. Arrebatou-nos como se fôssemos Doroty e Totó e transportava-nos para um mundo mágico, onde trilhávamos estradas amareladas e descobríamos, juntas, o valor de se ter coragem, inteligência e sentimentos. Cada desilusão com amigos era tão dolorosa quanto as futuras desilusões amorosas.
Éramos amigas? Sim, ainda somos. Brigávamos? Sim, ainda brigamos. Ficávamos ‘de mau’? Sim, ainda ficamos. Mas se assim não fosse, não haveria crescimento. Seríamos máquinas vivendo os dias esperando o momento de dar defeito. Cada briga, cada discussão, serviu para lubrificar nossos corações e deixá-los preparados e fortalecidos para futuros embates.
Mas hoje, atingindo a fase adulta da vida, sinto o mesmo amor, o mesmo carinho, a mesma dor de sempre. Continuarei ficando feliz com as conquistas e continuarei a sofrer com as provas dolorosas que vierem para a minha eterna criança. Já disse que não sou perfeita, mas dentro do melhor que consigo ser penso que a gente consegue conviver muito bem. Amor de mãe e amor de filha se entrelaçam na hora da dor. Amor de mãe quer a dor da filha para si. Amor de mãe quer curar as feridas. Amor de mãe fica feliz nas alegrias. Amor de mãe também é amor de amiga.
Leca Castro - 20/01/12