MEU CANTO PARA UM POETA (CLAYTON GARCIA)

                   Apenado pelo amor
                   Guardou o pinho,
                   Secou a pena.
                   Calou na alma
                   O canto, a poesia.
                   Apesar da prisão 
                   Das lágrimas vertidas,
                   Da dor que ele sente
                   Não fico triste
                   Entôo um canto
                   Espero novo imanto.
                   Poeta não morre
                   Adormece, apenas.

Goiás Velho, 24/11/2006.


Eu estava em Goiás Velho quando comecei escrever estes versos e só dei a forma que agora vocês lêem em 04/12/2006. Este poema estava na minha pasta de "poemas inacabados"; é lá que eles, os poemas, adormecem até que eu os considere completos ou sem possibilidade de eu nunca mais mexer neles, quer  para publicá-los ou para esquece-los. Para mim este ainda está incompleto. Mas, há um motivo para não mais retocá-lo e publicá-lo agora.

Falando parecerá loucura, mas quando dei essa forma eu pensei na morte de um poeta, não propriamente na física, mas a que cala alguém, que a impede de continuar indo com sua arte crescente e trasbordante de idéias. A minha cabeça racional não conseguia entender quem havia morrido, mas sabia que misteriosamente eu havia perdido - ou estava preste a perder - algo ou alguém de valor. Será que alguém aqui já vivenciou ou sentiu este estado de tristeza sem causa aparente? Foi uma sensação que me acompanhou muitos dias. Foi, também, em Goiás Velho que falei pela última vez com o Clayton.

Embora eu não saiba exatamente o dia em que o Clayton partiu,   ontem quando tomei conhecimento dos fatos - por intermédio da homenagem feita pela escritora Vanusa, nossa colega de Recanto - lembrei-me, na hora, de um dos tantos e-mails que ele me enviou, o qual ora transcrevo na íntegra. 


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----- Mensagem encaminhada ----
De: Clayton <claytoncobain@hotmail.com>
Para: divinajatoba
Enviadas: Domingo, 17 de Setembro de 2006 19:30:59
Assunto: muito bom!


a vantagem de estarmos interagindo é essa: a cada vez melhoramos. Impossível negar influências no que escrevo, mas muita coisa, acho aqui, nos versos que os recantistas amigos amadores e profissionais depositam, por isso Divina, amador sim, é uma pena que esse país não seja bom com os escritores, em especial com os poetas, não quero ter que morrer para ser reconhecido ( sou jovem demais! rsrsrs), adorei seu poema : café españa, tem um gostinho muito bom, passa uma energia super positiva. Obrigado pela visita ao meu cantinho, se vc gostar, escrevo umas infantis, depois que terminar os números do \"dúbio\" volto com infantis e outras coisas. Adoro diversidade, procuro sempre variar para atingir todos os gostos possíveis. Louco? sim, mas por poesia. beijos Divina e muita luz e paz no seu caminho. Ótima semana. 

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Todo o contexto da morte do Clayton  me parte o coração, que acidente! Ele dizia ser muito jovem para morrer e que não gostaria de ter que morrer para ser reconhecido. Pavor que passa na cabeça de todo artista. Mas, se ele não teve o  reconhecimento merecido no mundo que sonhava, foi por muitos amigos do Recanto acolhido. É por isso que sempre agradeço cada comentário dos escritores e amigos de jornada, mesmo que eu não tenha tempo de lhes dizer isso. E por estes tantos leitores e seus comentários que  continuamos animados na lida com as palavras. Sou, também, agradecida por ter esse canal de publicação e divulgação, caso contrário não estaríamos interagindo com escritores os nossos escritos, nossos papéis, nossos versos. Ah, que mundo é esse que só tem valor o que é comercializável! Ai eu estou com a Hilda Hilst: Será que temos sempre que agradar primeiro o gosto do “Tio Laulau” !!!

Eu abri meu espaço hoje para transcrever um poema belíssimo do Affonso Romano
.

ESTÃO SE ADIANTANDO

“Eles estão se adiantando, os meus amigos.
  Sei que é útil a morte alheia 
  para quem constrói seu fim.
  Mas eles estão indo, apressados,
  deixando filhos, obras, amores inacabados
  e revoluções por terminar.

  Não era isso o combinado.

  Alguns se despedem heróicos,
  outros serenos. Alguns de rebelam.
  O bom seria partir pleno.

  O que faço? Ainda agora
  um apressou se desenlace
  sigo sem pressa. A morte
  exige trabalho, trabalho lento
  como quem nasce
.”


A quem ficou um alerta: ame a sua arte amadora, mais que nunca! Por ele, Clayton, pensarei mais, doravante, quanto a eu não estar escrevendo somente poesias. Foi  por incentivo dele que publiquei  a crônica “Minha Primeira Palavra”. Foi dele, também,  que recebi, por e-mail, o mais lindo comentário à “Toda tragédia tem um número”, que ironia.  

Divina Reis Jatobá
Enviado por Divina Reis Jatobá em 12/01/2007
Reeditado em 07/07/2008
Código do texto: T344911
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