MEU PAI
Aos poucos vai desaparecendo aquela silhueta
de um homem mediano, possuir de um comedimento
sem igual, correto em suas decisões, verdadeiro
gigante em defesa de seus ideais.
Faz muito tempo, ocorreu um fato que me deixou
indelevelmente marcado quando por exigências da
própria vida, desliguei-me de sua dependência
econômica por emancipação.
Ao despedir-me meu pai chorou, cujas lágrimas
continuam guardadas em um quadro pincelado
em minha memória, e ainda mais por ficar ali
patenteado a grande amizade que reinava entre nós.
Abraçamos-nos no início de um ano que já vai longe.
Três meses depois o destino revelou-me
que aquele abraço foi derradeiro, nunca mais pude abraçá-lo
e é exatamente isso que me dói.
Eu parti para um outro local, e ele para os
céus onde está bem melhor do que eu.
Havia entre nós uma amizade pacífica, pai
e filho existencialmente vivendo a ponto
de tornar-mos confessor um do outro para
falarmos de nossas fraquezas como seres humanos.
Poucos tiveram a felicidade de ter o pai que
tive, confidente, orientador reticencioso para
com os outros, de temperamento quieto mas
detentor de um profundo sentimento.
Estamos separados a quarenta anos da
vida terrena, sem poder conversar e nem abraçar-nos, mas
sou possuidor de um presente reconfortante e insuperável, de
saber que no baú de minhas recordações o amor
dele ocupa um lugar muito mais do que especial.