Não sou crítico, apenas um curioso da arte poética. Não doutrino: aconselho, alerto. Feiticeiro primitivo, sugiro às vezes uma reescritura salutar, saneadora, elevadora, tensional.
Não sou médico-cirurgião, de incisões precisas e receitas perfeitas; vejo-me só místico rústico, à beira do rio, inculto e crédulo: pondero apenas, enquanto preparo e ofereço ervas e poções. Pagé ou médico, a magia enfim se acha extra-mim, na outra margem, donde se eleva ampla e sublime, angélica e casta, poderosa e delicada de tuas mãos símplices, bíblicas, proféticas.
Em suave transe, passeias pela margem. Cuidado porém: passas somente, e jamais retornarás, que ninguém volta.
E breve, fugaz é a tua passagem.
A sábia Vida te dá entretanto uma chance de, embora fluindo, permaneceres. Nome dessa dádiva: tua literatura. Fá-la portanto a melhor possível, a maior imaginável; transforma-a em céu, muralha, pousada, em cândida beleza.
Melhor que produzir mais e mais textos é multiescrever os escritos: aí reside teu regresso, tua permanência diante da primavera...
Falando sem enigmas: tua honrosa trajetória literária tornou-se um grande exemplo para todos nós. Aplaudo-te, leio-te, silencio. Finas letras!