Amizade de Estrada

Estava em Belo Horizonte de moto para passar uns dias de férias com a família de minha esposa. Decidi "roubar" uns quatro dias dessas férias para um passeio de moto até a chapada do Veadeiros (é importante destacar que isso não tem absolutamente nada a ver com a minha orientação sexual) e também quero destacar que não tenho qualquer tipo de preconceito que os homossexuais. Acordei cedo com objetivo de chegar a Brasília, pois sabia que os quilômetros próximos a São Jorge são estradas muito mal conservadas e de barro, associado isso a noite e chuva era certeza de complicação. Durante os primeiros quilômetros de minha viagem ao parar para abastecer puxei uma conversa com outro motociclista, mestre de obras, seu maior bem era justamente aquela moto que estava pilotando, Ademir era um generoso por natureza, logo após abastecermos as motos fomos tomar nosso café da manhã. Ele tomou um belíssimo copo de leite e eu tomei uma água de coco com um pão de queijo. Ademir fez questão de pagar a conta, mas não permiti, fiz a seguinte proposta, cada qual paga o seu, havendo qualquer necessidade um ajudaria o outro. E dito e feito, lubrificamos as correntes das motos e seguimos a estrada, como a moto dele era menos potente que a minha ele seguia na frente. Nas paradas para comer, abastecer, fazer xixi, foi conhecendo um pouco mais desse guerreiro, pais de 4 filhos, sofreu um acidente sério com a moto há uns 6 meses, lentamente consertou a moto e agora estava abandonando a vida em Belo Horizonte e voltando para a família em Taguatinga. Ao chegar lá a primeira coisa a fazer será vender a moto, juntar o dinheiro e montar uma pequena venda com o tio. Tomamos muita chuva naquela viagem ele sem roupa de proteção, Ademir congelava sobre a moto, mas destemido, sempre recusou meus convites para pararmos, tinha ânsia de chegar, abraçar a esposa e sentir o cheiro dos filhos. Ademir tentou, fez o que pensava ser o melhor para a família, agora tem a certeza que seu lugar e junto dos seus. Na estrada apesar da moto ser pequena, Ademir ia no limite, quando perguntava o porque disso a resposta era:- Meu amigo, você não tem ideia de como eu quero chegar logo!

Na entrada de Taguatinga, paramos a moto, demos um abraço forte como se fossemos amigos de longa data, depois disso, nunca mais o vi ou tive notícias, só espero que a venda esteja prosperando juntamente com o amor dele com sua família.

Um grande abraço Ademir, você é um guerreiro. Fica aqui essa pequena homenagem!

DVM
Enviado por DVM em 01/01/2012
Reeditado em 03/01/2012
Código do texto: T3417343