Aniversário de Mãe-Rememória
Hoje, nessa data quatro de dezembro, minha avó,Theóphila Theonila Cãmara de Araújo dava à luz seu décimo nono fruto, minha mãe, Terezinha do Menino Jesus .Foi a caçula, mimada e doce.Dançar,sapatear, cantar,nadar, criar toda a espécie de animais, cuidar de doentes e trazer crianças ao mundo era sua maior destinação.Não gostava de peias, de imposições, mesmo tendo se casado aos quinze anos.
Brinco seriamente num poema ao dizer que, primogênita, ainda ouço seus gritos à delivrance.
Sempre fui muito ligada a ela, que me onerou desde sempre com todas as suas confidências.Mas isso, tornou-me a escritora que sou. O bônus a partir do ônus.e amadureci cedo à bessa.Contava-me de tudo e quando papai e ela, que eram cinéfilos ,chegavam do cinema, contavam-me tudo.Cenas picantes, omitiam ou suavizavam. Muita emoção, já grande, ou adulta ou agora em sessões "Cult",reconhecer enredos e protagonismos- e então, rindo,perceber onde pulavam informações ou as substituiam . Claro,se era um filme tipo Nouvelle Vague, criavam possibilidades- e as discutiam- para a continuação do roteiro. isso preparou-me também para a Psicologia que exerci com paixão.Compaixão, palavra que decodifiquei através de seus atos constantes.
Ela nasceu em uma época em que as mulheres cumpriam leis e fadários
domésticos.Mas era pássara. Voava alto e cantava visionariamente a favor da mulher...
Não gostava de preconceitos naturlamnte, nem de idéias impostas, crendices.Contava que quando aonteceu-lhe a menarca, foi cantar e pular sob o chuveiro, embora tivessem lhe repassado que moça menstruada não lavava a cabeça.Sabe-se lá porque.Tudo que "fazia mal",bem lhe fazia : manga com leite ,
amamentação...Exímia amazona, apostava corrida com carros ,a cavalo, feliz da vida.
Tudo que era velho demais quando ela nasceu, num mundo vetusto, renovava.Via com olhos de novidade : pedras,flora e fauna...
Conhecia o milagre da multiplicação dois pães.Podíamos levar para casa quem quiséssemos, ela jamais reclamou e nunca faltou saboroso alimento em nossa mesa.
Minha avó,mamãe(Terezinha do Menino Jesus-Teca) e eu, em Juiz de Fora, 1978
Eu,mais séria, comedida, logo tornei-me sua mãe e ela achava graça porque fizemos juntas um teste de maturidade e ela perdeu de mim.Realmente, era minha meninha generosa demais para ser apenas uma criança grande - capaz de todos os sacrificios para ser mãe de seis filhos, o caçula com Síndrome de Down.
Parabéns, sempre, minha mãe menina, de quem nasci quando tinha pouco mais de dezesseis anos, casada aos quinze com meu pai, dez anos mais velho.
Lembro quando eu ia fazer reportagens você me acompanhava,mais-que-feliz, porque ia participar da vida artístico-literária-social de Juiz de Fora."_Clevane , você não fica sem graça de ser uma repórter acompanhada pela mãe?" Perguntavam e eu olhava perplexamente esses interlocutores...Na verdade , eu adorava, suas estratégias,pois era meio timida e ela muitas vezes, fez o meio-de-campo para que eu me aproximasse de algum notável.Como aconteceu com o Rubens de Falco: -"Mãe, ele está sozinho ali, mas deve estar descansando"...Temia incomodar o astro de "A Escrava Isaura".Ela fingiu que não ouviu.Foi até ele sorridente e perguntou se a filha,que vinha de concluir outra entrevista,poderia aproveitar que ele já estava desocupado e entrevistá-lo.Ele buscou-me com os claros olhos e aquiesceu.Cheguei , obedecendo ao aceno de mão e cumpri alegremente minha tarefa.Eu adorava aquilo, mas não gostava de incomodar...Isso ocorreu vária vezes, até que me senti mais segura.E tudo sem que ela recriminasse,criticasse ou zombasse - só sinalizava caminhos, possibilidades...
Pois é, D.Teca,ainda sinto a palma de sua mão sobre a palma da minha.Transmissão silenciosa e energética de um amor incondicional e imensurável.
Jamais esqueço de você, um sentimento sempre eterno, sempre terno, sempiterno...
Clevane Pessoa
Foto:Jasmin do Poeta-Crédito;Clevane Pessoa-em meu terraço, durante uma chuvarada.
Hoje, nessa data quatro de dezembro, minha avó,Theóphila Theonila Cãmara de Araújo dava à luz seu décimo nono fruto, minha mãe, Terezinha do Menino Jesus .Foi a caçula, mimada e doce.Dançar,sapatear, cantar,nadar, criar toda a espécie de animais, cuidar de doentes e trazer crianças ao mundo era sua maior destinação.Não gostava de peias, de imposições, mesmo tendo se casado aos quinze anos.
Brinco seriamente num poema ao dizer que, primogênita, ainda ouço seus gritos à delivrance.
Sempre fui muito ligada a ela, que me onerou desde sempre com todas as suas confidências.Mas isso, tornou-me a escritora que sou. O bônus a partir do ônus.e amadureci cedo à bessa.Contava-me de tudo e quando papai e ela, que eram cinéfilos ,chegavam do cinema, contavam-me tudo.Cenas picantes, omitiam ou suavizavam. Muita emoção, já grande, ou adulta ou agora em sessões "Cult",reconhecer enredos e protagonismos- e então, rindo,perceber onde pulavam informações ou as substituiam . Claro,se era um filme tipo Nouvelle Vague, criavam possibilidades- e as discutiam- para a continuação do roteiro. isso preparou-me também para a Psicologia que exerci com paixão.Compaixão, palavra que decodifiquei através de seus atos constantes.
Ela nasceu em uma época em que as mulheres cumpriam leis e fadários
domésticos.Mas era pássara. Voava alto e cantava visionariamente a favor da mulher...
Não gostava de preconceitos naturlamnte, nem de idéias impostas, crendices.Contava que quando aonteceu-lhe a menarca, foi cantar e pular sob o chuveiro, embora tivessem lhe repassado que moça menstruada não lavava a cabeça.Sabe-se lá porque.Tudo que "fazia mal",bem lhe fazia : manga com leite ,
amamentação...Exímia amazona, apostava corrida com carros ,a cavalo, feliz da vida.
Tudo que era velho demais quando ela nasceu, num mundo vetusto, renovava.Via com olhos de novidade : pedras,flora e fauna...
Conhecia o milagre da multiplicação dois pães.Podíamos levar para casa quem quiséssemos, ela jamais reclamou e nunca faltou saboroso alimento em nossa mesa.
Minha avó,mamãe(Terezinha do Menino Jesus-Teca) e eu, em Juiz de Fora, 1978
Eu,mais séria, comedida, logo tornei-me sua mãe e ela achava graça porque fizemos juntas um teste de maturidade e ela perdeu de mim.Realmente, era minha meninha generosa demais para ser apenas uma criança grande - capaz de todos os sacrificios para ser mãe de seis filhos, o caçula com Síndrome de Down.
Parabéns, sempre, minha mãe menina, de quem nasci quando tinha pouco mais de dezesseis anos, casada aos quinze com meu pai, dez anos mais velho.
Lembro quando eu ia fazer reportagens você me acompanhava,mais-que-feliz, porque ia participar da vida artístico-literária-social de Juiz de Fora."_Clevane , você não fica sem graça de ser uma repórter acompanhada pela mãe?" Perguntavam e eu olhava perplexamente esses interlocutores...Na verdade , eu adorava, suas estratégias,pois era meio timida e ela muitas vezes, fez o meio-de-campo para que eu me aproximasse de algum notável.Como aconteceu com o Rubens de Falco: -"Mãe, ele está sozinho ali, mas deve estar descansando"...Temia incomodar o astro de "A Escrava Isaura".Ela fingiu que não ouviu.Foi até ele sorridente e perguntou se a filha,que vinha de concluir outra entrevista,poderia aproveitar que ele já estava desocupado e entrevistá-lo.Ele buscou-me com os claros olhos e aquiesceu.Cheguei , obedecendo ao aceno de mão e cumpri alegremente minha tarefa.Eu adorava aquilo, mas não gostava de incomodar...Isso ocorreu vária vezes, até que me senti mais segura.E tudo sem que ela recriminasse,criticasse ou zombasse - só sinalizava caminhos, possibilidades...
Pois é, D.Teca,ainda sinto a palma de sua mão sobre a palma da minha.Transmissão silenciosa e energética de um amor incondicional e imensurável.
Jamais esqueço de você, um sentimento sempre eterno, sempre terno, sempiterno...
Clevane Pessoa
Foto:Jasmin do Poeta-Crédito;Clevane Pessoa-em meu terraço, durante uma chuvarada.