Jose Carlos Oliveira - Textos Compilados Do Livro Máscaras e Codinome - o espetáculo da politica brasileira 1961- 84

1- " No Brasil,uma embriaguez dionisíaca acometeu a esquerda- a mesma embriaguez que neste momento perturba os sentidos da direita vitoriosa. Ninguém viu a luz, apenas a cegueira mudou de dono".

2 - " Há uma desleal cidade à espera desses homens. Aqui se perderão eles sob os monstruosos edifícios e somente sentirão debaixo dos pés nefandas perdras; {..} Nem compreenderão por que é que tantos homens aqui se acotovelam, desprezando os vastos campos do interior, onde um homem é ainda um ser revestido de pureza, onde o silêncio crepuscular ainda se derrama, incorruptível""

3- Quando vocês pensam que estou mentindo, estou falando a verdade. Quando pensam que não creio naquilo em que creio, estou firmemente agarrado às minhas crenças. Quando supõem que me chamo Frondizi, e que farei toda sorte de concessões para conservar o poder, digo-lhes que meu nome é Jânio Quadros e que não transijo".{..}

4 - "O que Jânio propõs com a renúncia foi que modificássemos a nossa linguagem. Falemos claro, com observou um amigo meu outro dia: como se pode viver tranquilo num país onde um homem que teve cinco milhões de votos acaba num modesto hotel londrino, olhando de longe o grotesco espetáculo da luta pelo poder que , tão grande é esse homem, se faz em seu nome e em nome dos seus princípios? Uma sombra imensa paira sobre o Brasil."

5 - " O sentimento de pertencer ao exército, em nossos militares, é mais forte do que têm os nossos políticos de pertencer à nação. Os militares respondem pelos seus atos, enquanto os políticos debandam, quando não oferecem em espetáculo a sua espantosa covardia. Paradoxo trágico: nossos políticos falam muito em Deus, justamente porque não crêem em nada."

6- "Desde 1961 os nossos contatos se tornaram raros; e, quando nos encontrávamos, não nos reconhecíamos. Cada um se batizara a sua própria semelhança; cada um era um outro. Minha admiração, contudo, continua intacta- pela inteligência genuína, a aguda sensibilidade, a honestidade erguida a uma altura quase brutal, que fazem de Ferreira Gullar uma das mais fortes personalidades que me foi dado conhecer."

7 - A verdade é que seria necessário reformar os homens para que estes fossem capazes de reformar o mundo. A verdade é que está tudo errado em toda a parte. Não importa: um voto é uma pedrinha; daqui a mil anos a catedral estará erguida."

8- " Chico Buarque, o poeta, tem com as palavras uma relação de amor. Cada palavra e, em si, adorável, há feias, feiosas, bonitinhas, lindas, pretensiosas, sofisticadas, escandalosas, safadinhas, amargas, - numerosas como as virtudes e defeitos do próprio homem, as palavras são, contudo em essência, adoráveis. Os dicionários são jardins em que os poetas colhem as palavras da estação; há palavras que floram só na primavera, outras só no verão, e assim por diante. O poeta colhe por igual essas florações de perfume vários, e outra não é sua vocação. São ingênuos os que vêem em cada poeta um sonhador; eu, por mim sempre achei que poeta é o homem pragmático por excelência. Quando os poetas são constrangidos ao silêncio, por tédio, amor, ou desilusão, a verdade murcha nos canteios- isto é, as numerosas verdades que brotam nesses jardins do possível e do inevitável. Sim, senhores, eu pediria um pouco de atenção ao que lhes direi agora: quando os poetas se calam,os cálices se quebram e as festas se espicha em desastre."

9-" Assim, é possível compreender os sentimentos de um operário que, após longo dia de trabalho, vê-se forçado a marchar pra casa na escuridão, num lugar assombrado pela aparição de cadáveres crivados de balas e sem documentos. Alguém está matando pessoas sem nome. Por que a próxima vítima não seria ele, operário".

10 - "Henfil se libertou da paranóia mediante uma pirueta feliz. Deu de escrever cartinhas à sua mãe, em textos dos quais se desprende uma doçura de criança de 10 anos de idade, apegada à presença materna compreensiva e solidária. Graças a essa nova perspectiva, pôde olhar de frente a realidade. Ele que sempre pede à sua mãe " a benção do filho", inventou uma situação na qual , ludibriando o aparato de vigilância, conseguia entregar uma carta à primeira dama. A primeira- dama a que se referia era a senhora Geisel "

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Nota: Livro organizado por Jason Tércio. Editora Civilização Brasileira- 444 páginas.

Roberto Passos do Amaral Pereira
Enviado por Roberto Passos do Amaral Pereira em 02/12/2011
Reeditado em 02/12/2011
Código do texto: T3368550
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