Neta de Pescador...
Como eram bons os domingos de outrora...
Em que meus pais me levavam para vê-lo...
E eu corria as ruas para chegar logo e abraçá-lo...
E Lá você estava sentado na porta...
Em sua cadeira de balanço...
Com as pernas cruzadas...
Com aquele seu chinelo de couro...
Sempre tecendo uma rede de pesca...
Aquilo na infância era fantástico...
Adorava segurar o carretel de fio de nilon...
E prestar atenção na agilidade de suas mãos...
Passávamos a tarde ali na rua...
Você na cadeira de balanço...
E eu no banquinho de madeira embaixo da arvore...
Que hoje não existe mais...
Ficava aguardando às cinco da tarde...
A hora de ir à padaria...
Caminhava com você de mãos dadas...
E cheia de orgulho por que ia com você comprar o pão...
Que felicidade boba...
Cheirinho do pão assado...
Do peixe frito que você pescava...
Do cheirinho do café saindo do fogo...
Sentada em cima mesa da cozinha...
Esperando que tudo fosse servido...
E eu comia ali mesmo...
E conversávamos histórias absurdas...
Coisas de pescador...
Tipo a lenda do fogo corredor...
A sua vida como pescador...
A sua paixão pelo mar...
A sua história de carteiro...
E as visitas?... ahh as visitas que você fazia..
Com os braços carregados de sacolas de peixe...
Era o meu almoço preferido...
E você dizia...
Já está forte?...
Já está comendo feijão?...
Essa pergunta era constante...
Acompanhou-me ate meus quinze anos...
Mas ele nunca via o tempo passar...
Sempre fazia as mesmas perguntas...
Entrei na adolescência...
E como toda adolescente...
Sempre achamos que temos todo o tempo pela frente...
Achamos que o outro dia tudo que irá acontecer...
Como todos os outros dias...
Trocamos domingos em família por ficar em casa...
E cada vez mais esses momentos...
Vão ficando cada vez mais raros...
Sempre com as mesmas desculpas...
Semana que vem eu vou...
Sábado que vem eu vou...
Próximo mês eu apareço...
Tenho prova...
Tenho cursinho...
E um dia desses...
Ele acordou...
Como todos os outros dias...
E de manhã...
Sem esperar... O domingo...
A semana que vem...
O mês que vêm...
E partiu...
Saudades vô...
Dedicado o eterno amor da minha vida vovô Jose Alves