Maria Manoella
Maria Manoella era assim: à frente do seu tempo. Nascida em 1876 e registrada com o nome contendo os dois eles, moda nos dias atuais. O nome, uma homenagem de sua mãe ao esposo, Manoel. Maria Manoella era encantadora com seus lindos olhos azuis e dona de uma vontade férrea. Ficou radiante quando seu pai contratou um professor para permanecer uns tempos na fazenda e ensinar os filhos a ler e escrever. Qual foi a sua decepção quando entendeu que as aulas seriam só para os seus irmãos, para os meninos, afinal, as meninas precisavam aprender a costurar, limpar, passar, cozinhar, bordar, e isso era tarefa que a sua mãe já desempenhava. Inconformada, não desistiu do seu desejo de conhecer o mundo que as letras oferecem e todos os dias durante as aulas, dava um jeito de permanecer embaixo da janela da sala em que as aulas eram ministradas. Ouvia silenciosa e atentamente tudo o que se falava lá dentro. No final da aula, um dos irmãos, sensibilizado com a sua dedicação e vontade, repassava para ela tudo o que havia aprendido. Como estavam fazendo algo escondido, não tinham acesso a papel e lápis, e por isso eles utilizavam folhas de bananeira e pedacinhos de pau para escreverem as letras, as sílabas, as palavras. Dessa forma, ela foi alfabetizada ao mesmo tempo que seus irmãos.
Maria Manoella, minha avó materna, exemplo de vontade e persistência! Tanto é que viveu 100 anos, exercitando uma memória fantástica. Lembrava-se de fatos e detalhes que os muito mais jovens eram incapazes de recordar! Lembro-me de, na minha adolescência, ir visitá-la e levava para ela uma flor, flor simplesinha mesmo, colhida do jardim de casa ou do quintal, e ela agradecia a gentileza com uma quadrinha, um verso... era uma poetisa, a minha avó! Sinto muito ter convivido pouco tempo com ela, pois quando ela se foi eu tinha apenas 21 anos de idade. Hoje, sinto muitas saudades e muito orgulho de uma mulher forte que, inconformada com uma imposição, buscou estratégias para alcançar o objeto de seu desejo.