Minha estrela

Olho para o céu, e lembro-me daquele dia, daquele triste dia, e, ironicamente, um sorriso forma-se em meu lábios. Um sorriso sem humor.

Estávamos sozinhos naquele mundo branco. Eu segurava sua mão, e você a minha. Nós conversávamos aos sussurros. Contávamos nossos últimos segredos., nossas últimas histórias, e soltávamos nossas últimas risadas.

Então você fechou os olhos, por alguns instantes. Vi dor em suas feições magras e enrugadas. Era além da dor física, eu sabia. Era dor por saber que seu fim estava próximo. Sim, certamente você sentia que tudo chegava ao fim.

Segurei as lágrimas piscando furiosamente. Não, não. Não iria chorar, não agora. Eu tinha que deixá-lo ir. Seria melhor para você. Um lugar lá em cima já estava reservado.

Você olhou para mim, seus quentes olhos castanhos com um brilho sábio. Seus lábios secos e pálidos formaram um sorriso fraco.

- Querida. - começou, com um fiapo de voz. - Está na hora de partir. Mas não fique triste, meu bem. Estarei por perto. - ele tossiu. - Olhe para o céu, em toda noite estrelada. Aquela estrela que mais brilhar para você, serei eu dando-lhe boa-noite.

Sua voz foi sumindo. Sua mão afrouxou-se na minha, e eu sabia que você tinha partido.

Agora vejo no céu aquela estrela, brilhante, conhecida. Permito que lágrimas escorram pelas minhas bochechas, e com um suspiro, murmuro:

- Boa-noite, vô.